O desemprego de longa duração
é daquelas manifestações de disfuncionamento do mercado de trabalho sobre a
qual se conhecem os malefícios para quem por ela é atingido, mas em relação à
qual acaba por se conhecer pouco em termos de informação quantitativa. A
informação qualitativa é mais rica e diversificada, abrangendo quer histórias
de vida de quem se vê mergulhado numa espécie de não retorno, quer testemunhos
diversos e pontuais.
É por isso de registar quando
estudos quantitativos vêm clarificar a dimensão de problemas identificados pela
análise qualitativa. Neste caso, é sobre a economia americana que falamos, mas
por desgraça nossa o nosso mercado de trabalho vai apresentando cada vez mais
similaridades com algumas dimensões de disfuncionamento do mercado de trabalho “born
in USA”.
É o caso de um estudo
publicado por David Neumark e Patrick Button na interessante Economic Letter
do Federal Reserve Bank of San Francisco, designado de “Age Discrimination and the Great Recession”.
Ora, o que o estudo de
Neumark e Button evidencia com clareza é que, após a Grande Recessão de
2007-2008 e ao contrário do que sucedia até a esse marco temporal, são os
trabalhadores americanos com mais de 55 anos a permanecer mais tempo fora do
mercado de trabalho, cerca de mais de 50% do que o escalão entre os 25 e os 54
anos. A investigação de Neumark e Button regista a presença de uma efetiva
discriminação pelas empresas deste escalão, apesar da existência de medidas de
política que procuram evitar essa discriminação e da ilegalidade que essa
situação representa, quando devidamente demonstrada perante a lei.
Por mero recurso a análise
qualitativa e a uma perspetiva impressiva do fenómeno em Portugal, esta evidência
deve ter em Portugal uma expressão bem mais marcada. É aliás uma das fraturas
mais dolorosas da sociedade portuguesa e o governo não parece interessado em
assumir frontalmente este problema.
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