domingo, 13 de abril de 2014

CUMPLICIDADE



Uma virose das antigas, daquelas que arrasa com todas as pretensões de fazer qualquer coisa, porque o corpo pede repouso e a cabeça pesa que se farta, afastou-me alguns dias das lides, paradoxalmente num fim-de-semana que pedia sol e a possibilidade não concretizada de rever as aleluias em Seixas.
E no meio deste paradoxo que consistiu na privação do sol sem alternativa condigna de secretária, emergiu esta imagem no meio de leituras interrompidas, jornais mal lidos, blogues não revistos, livros interrompidos.
Uma imagem de cumplicidade, depois do frete (boa expressão do meu colega de blogue) que constituiu o passeio-conferência que Barroso e alguns comissários europeus vieram realizar com o alto patrocínio bafiento de Cavaco (quanto tempo falta para arejar esta imagem bafienta?). O branqueamento estará em curso até às europeias, pois Barroso e as forças políticas que o sustentaram pretendem a todo o custo salvar a pele pelos danos que a abordagem à crise das dívidas soberanas provocou. E depois a inevitabilidade do ciclo económico, há sempre uma recuperação por mais tardia que se apresente depois de uma recessão, mesmo que de grandes dimensões, dá jeito para pseudodemonstrar que afinal a austeridade produziu efeitos. Jogar com a recuperação económica, tardia, não fazendo recuperar a criação de emprego e a taxa de emprego, equivale a uma das mais descaradas desonestidades intelectuais de que há memória nos anais da política económica. Pois o que está em causa é a interrogação se os custos da abordagem assumida a partir de Bruxelas são hoje compensados pela tímida recuperação em curso. E claramente que não são compensados, antes produziram um país cuja recuperação global e anímica será bem mais difícil e lenta do que a reanimação do PIB.
A imagem em si é esclarecedora. O olhar de Barroso é de experiência feito, um sorrisinho algo cínico, como que a dizer, Pedro o mais difícil já passou e até pode ser que te aguentes. Já a expressão de Passos Coelho é bem mais enigmática, obediente não há dúvida, mas não muito convencido da lição de circunstância. Por isso, por agora, resta-nos não ignorar a recuperação, mas não abrandar na denúncia do branqueamento e dos danos colaterais que foram bem superiores à margem de risco inicialmente calculada.

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