terça-feira, 15 de abril de 2014

O PREVISÍVEL INCONSEGUIMENTO DA ASSUNÇÃO

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

Tudo foi dominado pelo mau gosto no incidente gerado entre Assunção Esteves e Vasco Lourenço a propósito da comemoração dos 40 anos do 25 de abril na Assembleia da República (A.R.). Mas no balanço final das contas poderá ser a presidente da A.R. quem acabe por surgir aos olhos dos cidadãos como tendo perdido mais com o mesmo. Quer porque a senhora foi pouco polida (entre aquele regateiro início de conversa – “este ano houve novo convite, o resto não existe, não comento o que não existe” – e aqueloutro regateiro remate da mesma – “o problema é deles”) quer porque a senhora chamou a atenção sobre si própria de um modo absolutamente caricato e inútil.

De facto, a questão é a seguinte: o padrão das mais recentes intervenções da senhora em cerimónias públicas (ver três brilhantes ilustrações, recolhidas por Maria Henrique Espada para a “Sábado”, na imagem que fecha este post) atingiu um tal patamar de sofisticação (quase diria de “normatividade cosmopolita”) que o discurso que lhe caberá fazer em 25 de abril próximo dificilmente conseguirá apresentar argumentos capazes de corresponderem à enormidade das expectativas criadas. Não me espantaria, pois, que a senhora tivesse de vir a terreiro reconhecer que, a despeito de ter puxado pela inspiração das suas melhores “categorias abstratas da razão propriamente dita”, se lhe tornou inevitável recuperar aquele lado humanamente “frustracional” a que fez apelo numa sua extraordinária entrevista à “Rádio Renascença” – onde disse, designadamente: “Temos sempre um receio humano de não conseguir. O meu medo é o do inconseguimento, em muitos planos: o do inconseguimento de não ter possibilidade de fazer no Parlamento as reformas que quero fazer, de as fazer todas, algumas estão no caminho; o inconseguimento de eu estar num centro de decisão fundamental a que possa corresponder uma espécie de nível social frustracional derivado da crise.”

E retorno à minha: baseado naquelas “categorias do razoável” que chamam “por um sentido de peso e medida sobre as formas concretas de vida”, aposto singelo contra dobrado que a senhora vai voltar a inconseguir...

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