quarta-feira, 23 de abril de 2014

NOVIDADES DO EMPLOYMENT OUTLOOK 2013



Apesar das limitações de um ideário de política económica que marca a produção de reflexão por parte da OCDE, a edição anual do Employment Outlook é sempre uma oportunidade única para uma visão de conjunto das transformações observadas nos mercados de trabalho das economias da OCDE. 2012 é um ano de observação relevante, pois o tempo de maturação pós crise de 2008 é já suficientemente longo e por isso o relatório de 2013 era esperado com alguma expectativa.
Numa primeira abordagem ao documento, as expectativas não me saíram furadas, sobretudo porque o relatório contém informação muito relevante sobre o modo como o aumento do não emprego da população em idade ativa se decompõe em desemprego de curta duração, desemprego de longa duração e variação da taxa de participação da força de trabalho. Para além disso, são sistematizadas novas evidências sobre o modo como o não emprego atinge diferentes grupos socioeconómicos nos mercados de trabalho, com realce particular para a comparação de efeitos sobre jovens e trabalhadores mais idosos. E aqui há verdadeiramente novidades a assinalar com significativas implicações em termos de políticas públicas de ativação dos mercados de emprego.
A primeira novidade é o comportamento bastante positivo que, no pós-crise, os trabalhadores mais velhos, particularmente do escalão etário dos 55-64 anos, apresentam em termos de retoma do mercado de trabalho e do comportamento da taxa de participação na força de trabalho. Esta retoma é acompanhada de uma influência crescente das qualificações desses trabalhadores que parecem assim encontrar um valor intrínseco do trabalho mais elevado e compatível com a permanência no mercado de trabalho de trabalhadores mais idosos. É óbvio que para esta bem-sucedida maior permanência no mercado de trabalho ou capacidade de recuperação do posto de trabalho contribuem também estímulos fiscais e de outra natureza para contrariar reformas antecipadas (fenómeno que continua a existir e com expressão em países como Portugal) e o fator de necessidade de recuperação de perdas de rendimento líquido perdido induzidas pela crise financeira. O relatório dedica a estas matérias abundante informação e tratamentos empíricos mais sofisticados.
Mas sem dúvida o resultado mais importante é a demonstração empírica e econométrica de que a melhor performance de emprego dos trabalhadores mais velhos não é concretizada à custa de efeitos nefastos ou penalizadores sobre o emprego dos mais jovens. O relatório desmonta inequivocamente esta possibilidade, denunciando aliás que nessa suposição existe a falácia do pressuposto de que o emprego tem uma magnitude determinada à partida. Ora, o período de pós-crise analisado é o que melhor se aproximaria dessa falácia, ou seja do pressuposto de raciocinar com base num referencial de emprego fixo. Recorrendo a diferentes métodos, alguns deles com alguma sofisticação econométrica de utilização de variáveis instrumentais, o relatório conclui inequivocamente que não existe substituibilidade credível entre os dois tipos de emprego, mas antes complementaridade, que beneficiará de políticas focadas na ativação de emprego em termos globais. E conclui assim que as políticas públicas de estímulo de reformas antecipadas para induzir uma saída precoce de trabalhadores mais idosos do mercado de trabalho e com a ideia de criar oportunidades para a criação de emprego jovem constituem uma aberração económica. Contribuem para destruir a sustentabilidade do sistema de pensões e não trazem qualquer contributo positivo à resolução do desemprego jovem.
Conviria que o governo lesse e interpretasse profundamente estes resultados. Afinal, eles constituem uma boa demonstração da gratuita fratura que as políticas governamentais têm vindo a criar entre trabalhadores jovens e mais idosos. É a OCDE que o diz e não qualquer elemento da oposição.
E como bónus através do relatório acabei por chegar a um estudo do Parlamento Europeu (Combining the entry of young people in the labour market with the retention of older workers, 2013) que aponta algumas iniciativas de políticas de emprego de solidariedade entre gerações, cujos impactos estão ainda longe de constituir prova de que essa é uma boa orientação.

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