sexta-feira, 4 de abril de 2014

O VALOR SUPREMO DA CONDIÇÃO HUMANA


Completam-se hoje 100 anos de Marguerite Duras. A escritora que ficará sempre em mim eternizada por aquela frase da primeira página de “O Amante” em que tão cristalina e intensamente desabafa: “Muito cedo na minha vida foi tarde demais”. Sem esquecer o argumento daquele “Hiroshima, Meu Amor” que também ajudou a imortalizar Resnais.

Acima, a capa e o destaque do “Libé” do dia seguinte à sua morte em Paris no ano de 1996. Citando-a no mais profundo do seu autorretrato (“Morta, posso ainda escrever”) e homenageando-a no mais profundo da sua existência (“Ela estava lá, em todas as frentes”). Sem deixar de valorizar aqueles cinquenta livros em cinquenta anos cuja beleza estilística, dureza de tom e densidade emocional a fizeram inconfundível.

Essa mesma Duras que um dia disse que nunca escrevera uma única linha que não tivesse vivido. Essa mesma Duras a propósito de quem o “Le Monde” daquele mesmo dia afirmava: “O paradoxal do seu sucesso público é que o leitor menos dado ao ato criador aprecia ser admitido na confidência, participar no salto do anjo. A sua perceção aproximada do real e dos mal entendidos da vida surge modificada, enriquecida. Ele toma o gosto por essa leitura, que faz naturalmente eco da estranheza de viver.”

Também essa Duras que tão definitivamente marcada foi pela sua infância e adolescência na estranha e soberba ambiência da Indochina onde nasceu (Vietname), mas que acabaria por adotar Paris e as suas causas até ao fim do seu tempo. Ainda essa Duras que, aos quinze anos, teve um caso amoroso com um homem chinês mais velho e rico e que, pelos setenta, se apaixonou por Yann, trinta e oito anos mais novo.

Termino voltando ao “Le Monde”: Duras permanecerá como a escritora do meio século que ilustrou mais carnalmente, mais perigosamente os poderes modificadores de um texto sobre o seu autor e sobre o seu leitor, os sortilégios insubstituíveis do livro.”

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