terça-feira, 15 de abril de 2014

AINDA OS FANTASMAS DEFLACIONÁRIOS



A virose já lá vai, mas as férias e a modorra quase estival não são propriamente favoráveis a uma atividade de produção febril. As aleluias esperam por mim em Seixas, ainda não as vi, mas creio que ainda esta semana haverá um espaço para esse reencontro com o ciclo da Páscoa.
Por cá o debate está morno, embora hoje um cada vez mais esganiçado Paulo Rangel desenterre uma dificuldade adicional para uma apertada campanha de Seguro e Assis, que consistiu em citar o candidato dos socialistas europeus sobre o facto da mutualização da dívida não estar na agenda política. Já tínhamos percebido que, com amigos destes, a campanha do PS não vão ser rosas sem espinhos e com Schulz versus Juncker talvez ficássemos melhor servidos com o segundo. O calculismo político do SPD é demasiado evidente e é a sua frágil situação interna na Alemanha que comanda tudo o resto.
Retirando esta pressão de jogo de Rangel, detive-me no jogo de cintura que os responsáveis (e ex-responsáveis) do Banco Central Europeu têm vindo a exercitar para ultrapassarem esta partida que a baixa inflação tende a provocar numa instituição que tinha o crescimento nominal dos preços de 2% como o seu principal e único referencial de política. Desinflação (benigna) e baixa inflação são palavras toleradas no léxico comunicacional do BCE, mas deflação continua a ser uma palavra proscrita, sobretudo porque tenderia a justificar medidas consideradas por alguns dos membros do BCE como verdadeiros demónios que é fundamental manter sonolentos.
Draghi, em Washington, no passado dia 10, no International Monetary and Financial Committee, voltou a reafirmar que, após um longo período de baixa inflação, se espera que para fins de 2016 os preços caminhem de novo para o limiar esperado dos 2%. Esta semana no Financial Times, Jurgen Stark ex-membro do BCE veio assegurar que afinal a baixa inflação era o melhor dos mundos possíveis para a recuperação do poder de compra.
Mas colateralmente percebe-se que o comportamento dos preços é uma pedra no sapato na ideia de que a recuperação avança a bom ritmo e em função das expectativas. Assim, por exemplo, a permanência do euro forte face ao dólar já fez Draghi anunciar que pode tomar medidas de reforço uma vez mais do “quantitative easing” para fazer face a essa possibilidade. Anuncia-se também, medida mais apoiada pelos falcões alemães do que a primeira, que a taxa de depósito de fundos no BCE passará brevemente a ser negativa, o que significa que os bancos terão de pagar para parquear dinheiro no BCE.
Antonio Fatas, que tem a particularidade de ser Portuguese Council Chaired Professor of European Studies and Professor of Economics at INSEAD tem uma excelente peça no seu Antonio Fatas on the Global Economy, na qual mostra que as teses de Draghi e Stark segundo as quais a baixa inflação pode ser bondosa e proveitosa carecem de fundamentação teórica sólida. Isso deve-se sobretudo a não distinguirem entre argumentos de oferta e de procura e ignorarem os aspetos distributivos que podem estar ocultos num clima de baixa de preços.

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