quinta-feira, 10 de abril de 2014

UPSIDE DOWN WORLD



Tenho uma incontrolável tendência para simpatizar com pensamentos heterodoxos e reflexões “fora da caixa”. Acedi, por estes dias através do “Financial Times”, a uma obra desse tipo assinada por uma figura da “City” cuja focagem em termos de atividade profissional e intelectual conduziu já a que o considerassem como uma espécie de “evangelizador dos mercados emergentes” (Jerome Booth).

O argumento principal começa por entroncar na existência de três ingredientes constitutivos do cocktail crescentemente subjacente a detonações sistémicas à escala global: ideias erróneas sobre o risco, um excesso de agentes consagrando o essencial do seu tempo e esforço às mesmas matérias e o peso gigantesco da alavancagem.

Vejamos a questão do risco tal como é encarada por Booth em termos que qualifica de significativa “falha intelectual” (e que curiosamente não deixa de associar a uma escassez de diálogo entre a macroeconomia, a política e a história), assente em perceções diversas da realidade concreta (ver ilustrativamente os gráficos abaixo reproduzidos) como as de uma leitura unívoca das relações centro-periferia (ignorando, portanto, os efeitos da periferia sobre o centro): segundo ele, a presente configuração do mundo desenvolvido apresenta-se muito mais perigosa do que é habitual considerar-se e até mesmo mais arriscada do que a das economias emergentes no seu conjunto (sujeitas a uma overperception of risk), o que designadamente é comprovável por estas exibirem níveis de endividamento muito inferiores àquelas, deterem uma base de investimento dotada de uma diversidade superior, evidenciarem um bem maior dinamismo e serem até os seus bancos centrais os grandes credores internacionais (80% das reservas dos bancos centrais do mundo).




Uma outra reflexão deixada por Booth merece menção pela sua premência e atualidade. Refiro-me à sua afirmação de que os países desenvolvidos não poderão pagar as suas enormes dívidas acumuladas apenas através do crescimento económico, antes terão de proceder a um saque sobre os titulares da poupança internacional que operará por via de uma combinação de repressão financeira (baixa das taxas de juro, em especial) com o clássico jogo inflação-desvalorização.

Food for thought...

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