domingo, 20 de abril de 2014

DEFLAÇÃO EM SUECO

(a partir de http://krugman.blogs.nytimes.com/2014/04/18/how-do-you-say-nobody-could-have-predicted-in-swedish/)

Imagino que um português que tenha hoje a sorte de visitar a Suécia como turista acidental ou em curta viagem de estudo ou de negócios possa ter uma agradável sensação de baixa de preços, num país que todos nos habituamos a indicar como exemplo da lei tendencial de que o nível médio de preços acompanha o nível de desenvolvimento económico. De facto, quando se comparava o preço em coroas suecas de um café, de uma bebida ou de uma simples refeição com os respetivos preços em euros em Portugal, rapidamente nos apercebíamos de que a máquina de calcular ou o nosso cálculo mental estavam desgovernados.
Ora, depois de uma excelente capacidade de resposta que a economia sueca revelou face à crise de 2007-2008 (sobretudo por ter realizado atempadamente alguns ajustamentos orçamentais), as autoridades monetárias suecas deixaram-se aprisionar pela ideia da contenção a todo o preço, ainda que dispondo de moeda própria e de capacidade de financiamento a taxas bastante baixas. Daí que, com alguma estupefação, o Banco Central sueco adotou sistematicamente uma política monetária fortemente restritiva, sem aparentes razões justificativas, salvo talvez o comportamento dos mercados habitacional e imobiliário. Vários economistas suecos, sobretudo Lars E.O. Svensson, anteriormente ligado ao Banco Central, atribuem com clareza a atual inflação negativa observada a uma política monetária injustificadamente restritiva, determinando entre outras consequências o aumento da dívida real das famílias e empresas suecas.
Não é seguro que este experimentalismo monetário não possa traduzir-se em condições deflacionárias estruturais. Se tal vier a acontecer, será mais um constrangimento estrutural a juntar-se a uma atribuladamente lenta recuperação europeia. Só que neste caso reportado a um claríssimo erro de política monetária, colocando em evidência que o que parecia totalmente dominado, o domínio da política monetária pelos bancos centrais em torno de um ritmo estável de crescimento dos preços (+2%), não é um dado adquirido. A ortodoxia monetária pode dar-se mal com este experimentalismo inconveniente.

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