“Os mercados” são uma das expressões cool do momento. E sobre ela se vão ouvindo prosaicas mas recorrentes interrogações: Mas que raio de coisa é isso? Quem são esses tipos que nos comandam tão despudoradamente? E porque são eles os nossos credores? E os senhores da verdade? Mas existem mesmo? E são gente anónima? E até que ponto não serão eles agentes a soldo do capitalismo especulativo internacional?
Um trabalho há pouco tempo publicado pelo “El País” ajudava a pôr alguma ordem nas cabeças mais confusas sobre a realidade em causa. Sim, porque é de uma realidade bem concreta que se trata, embora de uma realidade muito heterogénea e nem sempre facilmente identificável e transparente em todos os seus contornos. Para dizer depressa, os mercados são, no essencial, os donos do dinheiro. Assim, e se os podemos associar em última instância aos titulares dos fluxos de capitais que circulam pelo mundo, eles correspondem mais visivelmente a essa amálgama de entidades investidoras que, num quadro muito diferenciado de objetivos e perfis, intermedeiam e operacionalizam tal circulação – o gráfico seguinte dá conta de que, em finais de 2013, os patrimónios sob gestão dos fundos de investimento e dos fundos de pensões de todo o mundo se situavam em 22,1 e 18,1 mil milhões de euros, respetivamente; um total próximo do somatório de todas as capitalizações bolsistas nacionais (41,6 mil milhões de euros) e equivalente a mais de 75% do PIB mundial, uma dimensão que é também boa parte da razão de ser de muitas dores de cabeça provocadas aos bancos centrais e às entidades de supervisão e regulação.
Este conjunto de fundos de investimento canaliza a poupança de milhares de milhões de aforradores particulares e forma uma indústria altamente concentrada (os 20 maiores grupos possuem sob sua gestão 41,4% dos ativos), acabando por desempenhar um papel essencial no financiamento dos países e das empresas (a despeito de não deterem habitualmente participações de controlo nestas). Abra-se aqui um parêntesis para deixar uma indicação adicional sobre os três tipos particulares de investidores institucionais que constituem os hedge funds (fundos de alto risco ou especulativos), os sovereign wealth funds (fundos soberanos) e os chamados family offices (escritórios de investimento). Quanto à primeira das categorias, existiam 9966 fundos registados em finais de 2013 e os seus ativos atingiam o significativo valor de 1,93 biliões de euros, sendo que o seu impacto efetivo se revela muito superior por via da utilização de alavancagens agressivas e produtos derivados; a maior dessas sociedades passa por ser a americana “Bridgewater Associates”, dirigida pelo carismático gestor Ray Dalio e com um património estimado em 65,15 mil milhões de euros. Em relação à segunda categoria, correspondente a instrumentos de investimento criados por países excedentários ou ricos em matérias-primas essenciais, uma estimativa disponível avaliava os ativos sob gestão dos maiores 20 em qualquer coisa como 3,8 biliões de euros; a maior destas sociedades tem por base o petróleo norueguês, é gerida pelo “Norges Bank Investment Management” e acumula ativos superiores a meio bilião de euros. No tocante à terceira categoria, boutiques diretamente consagradas a uma gestão diversificada de grandes fortunas e predominantemente localizadas em grandes cidades financeiras (como Hong Kong, Singapura, Nova Iorque, Chicago, Londres, Genebra ou Zurique), calcula-se que as 50 maiores operam com um património total em torno de 690 mil milhões de euros.
O “rei dos reis” desta indústria (quadro acima) é a americana “BlackRock”, dirigida pelo famoso Larry Fink e que ganhou acrescida importância desde a aquisição da divisão de ativos do Barclays em 2009; segundo o “El País”, possuía em 2012 um património sob gestão próximo dos 3 biliões de euros, o triplo do PIB espanhol, mas um artigo igualmente recente do “The Economist” atribuía-lhe 4,1 biliões (com mais de metade aplicados em equity, e a impressionante presença no capital das 20 maiores companhias mundiais que abaixo também se apresenta), sem considerar os 11 correspondentes à sua plataforma de trading e gestão de risco “Alladin” (que se estima ter debaixo de observação 7% dos 225 biliões em que estão avaliados os ativos financeiros globais).
Junto ainda, por estrita curiosidade nacionalista, um quadro do “Jornal de Negócios” referenciando que a “BlackRock” também está entre nós e quais as participações qualificadas que por cá vai detendo.
Numa próxima vez, voltarei a este assunto para ir um pouco mais fundo na apreensão desta realidade e no conhecimento de algumas gentes concretas que a configuram.
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