(João Abel Manta, “O Jornal”)
Naquela Quinta-Feira, 25 de abril de 1974, eu era um jovem estudante acabado de atingir a maioridade e bastante angustiado pela ideia de que o fim que se aproximava do meu curso de Economia na FEP – estava no 4º de cinco anos – redundaria inexoravelmente numa tropa com fortes probabilidades de ser de longa duração e passada a combater “o inimigo” em terras africanas.
Soube da coisa ao pequeno-almoço, quando me deram conta de um telefonema preocupado do meu pai a avisar que tivéssemos cuidado com as saídas à rua porque algo de estranho se passava. Não deixei de sair por isso, fazendo um dos meus dois caminhos de eleição a partir de casa, à Rua de Cedofeita: pela esquerda e em direção à Rotunda da Boavista, mais concretamente ao Café Patusco na Rua 5 de Outubro (o caminho da direita ter-me-ia levado, Cedofeita fora, em direção à Praça dos Leões e à Faculdade, no sótão do edifício da Universidade).
O dia estava solheiro e o meu feeling ia crescendo em conforme otimismo à medida que alguns dados e sinais iam sendo conhecidos. Depois tudo foi rapidíssimo até ao 25 de novembro de 1975, como igualmente rápido de então para cá, mas recordo dois momentos simbólicos de como a experiência começou para o meu lado: o primeiro, com a família em volta do aparelho de televisão assistindo àquela emissão sem precedentes em que a Junta de Salvação Nacional se apresentou aos portugueses – e, sobretudo, o modo como eu procurava registar cada palavra e cada componente de cada um daqueles nomes, o General António Sebastião Ribeiro de Spínola (presidente), o General Francisco da Costa Gomes e o Brigadeiro Jaime Silvério Marques, em representação do Exército, o General Manuel Diogo Neto (ausente em Moçambique) e o Coronel Carlos Galvão de Melo, em representação da Força Aérea, e o Capitão-de-mar-e-guerra José Baptista Pinheiro de Azevedo e o Capitão-de-fragata António Alva Rosa Coutinho, em representação da Marinha; o segundo, com uma participação num ato inaugural de adesão/insubordinação ajudando a boicotar uma aula teórica de Economia da Empresa, disciplina então a cargo de um docente muito taylorista a quem chamávamos algo meigamente de “Veiguinha”.
Soube da coisa ao pequeno-almoço, quando me deram conta de um telefonema preocupado do meu pai a avisar que tivéssemos cuidado com as saídas à rua porque algo de estranho se passava. Não deixei de sair por isso, fazendo um dos meus dois caminhos de eleição a partir de casa, à Rua de Cedofeita: pela esquerda e em direção à Rotunda da Boavista, mais concretamente ao Café Patusco na Rua 5 de Outubro (o caminho da direita ter-me-ia levado, Cedofeita fora, em direção à Praça dos Leões e à Faculdade, no sótão do edifício da Universidade).
O dia estava solheiro e o meu feeling ia crescendo em conforme otimismo à medida que alguns dados e sinais iam sendo conhecidos. Depois tudo foi rapidíssimo até ao 25 de novembro de 1975, como igualmente rápido de então para cá, mas recordo dois momentos simbólicos de como a experiência começou para o meu lado: o primeiro, com a família em volta do aparelho de televisão assistindo àquela emissão sem precedentes em que a Junta de Salvação Nacional se apresentou aos portugueses – e, sobretudo, o modo como eu procurava registar cada palavra e cada componente de cada um daqueles nomes, o General António Sebastião Ribeiro de Spínola (presidente), o General Francisco da Costa Gomes e o Brigadeiro Jaime Silvério Marques, em representação do Exército, o General Manuel Diogo Neto (ausente em Moçambique) e o Coronel Carlos Galvão de Melo, em representação da Força Aérea, e o Capitão-de-mar-e-guerra José Baptista Pinheiro de Azevedo e o Capitão-de-fragata António Alva Rosa Coutinho, em representação da Marinha; o segundo, com uma participação num ato inaugural de adesão/insubordinação ajudando a boicotar uma aula teórica de Economia da Empresa, disciplina então a cargo de um docente muito taylorista a quem chamávamos algo meigamente de “Veiguinha”.
Dou um salto no revivalismo e regresso ao presente. Para saudar sem mais o dia de hoje, aquele que estamos a começar a viver. Mesmo num momento em que é da maior pertinência, como nunca nestes 40 anos, uma revisão (quiçá por demais elegante) como a de Pedro Cabrita Reis à poesia na rua de Maria Helena Vieira da Silva – se estiverem pelo Porto ou arredores, é de ver a exposição comissariada por Raquel Henriques da Silva e Marina Bairrão Ruivo na Galeria Municipal Almeida Garrett, onde se inclui um núcleo dedicado aos cartazes que Vieira da Silva criou em 1975, a pedido da sua amiga Sophia de Mello Breyner Andresen, então deputada pelo Porto à Assembleia Constituinte, na lista do PS.
Também porque as sondagens agora feitas aos portugueses indicam com clareza que eles, apesar de tudo quanto conjunturalmente os agride e aflige, não confundem o essencial: 83% dizem-se pouco ou nada satisfeitos com a maneira como funciona a democracia em Portugal, mas isso não impede que 85% assumam o 25 de abril como uma data de todos os portugueses e que 65% identifiquem essa como a data genuína da democracia. Nem que, apontando o dedo acusador às atuais menores segurança, justiça ou riqueza e a piores condições de trabalho, a maioria encare a sociedade de hoje como mais igualitária e com melhor qualidade de vida e mais tempo para lazer, nela valorize o direito de voto para todos, o Serviço Nacional de Saúde tendencialmente gratuito e universal e uma maior igualdade entre homens e mulheres, saiba distinguir pela positiva o contributo e a imagem de Mário Soares e, sobretudo, reconheça (80% dos inquiridos) o valor supremo da liberdade como a máxima conquista daquele abril.
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