Começaram ontem as eleições gerais que são conhecidas como o maior exercício democrático do mundo. Uma festa com seis semanas de duração, nove dias específicos de ida às urnas e 814 milhões de votantes envolvidos que só terminará a 16 de maio.
Tudo indica que o vencedor será um duplo outsider, quer relativamente à tradição – desde a independência, em 1947, só em treze anos não foi o poder ocupado pelo Partido do Congresso com raízes na dinastia Nehru/Gandhi – quer relativamente às suas próprias caraterísticas e modos de funcionamento – Modi, o líder do maior partido da oposição (o partido nacionalista hindu BJP), é uma figura controversa a vários títulos (as suas nunca clarificadas ligações, enquanto ministro de Estado de Gujarat, à matança muçulmana de 2002; as suas posições duras contra os 175 milhões de muçulmanos existentes no país; uma forma de estar na liderança mais preocupada com os grandes números do que com a apresentação de propostas programáticas concretas) que o “The Economist” desta semana dá por provável próximo primeiro-ministro não sem explicitar que “isso não significa que o devesse ser”.
Quanto ao que está em jogo, as apreciações divergem enormemente. Para uns, o país tem vindo a perder muito da sua dinâmica e correspondente potencial, quer por via de um crescente afogamento nas malhas da corrupção quer por via da perda de iniciativa política reformista que marcou a última década, com reflexos notórios em termos dos grandes indicadores macroeconómicos (gráficos acima).
(Raghuram Rajan por Agustin Sciammarella, http://elpais.com)
Para outros, uma inversão de situação começou já a ocorrer com a chegada ao RBI (Reserve Bank of India) de um novo governador, o conceituadíssimo académico Raghuram Rajan, que definiu como suas tarefas nucleares a liberalização do sistema financeiro indiano (no quadro de um desafio de redefinição do modo de funcionamento dos bancos centrais das economias emergentes) e a estabilização da rupia, tendo além disso uma influência decisiva sobre várias outras dimensões de comando do policymaking. O gráfico acima dá conta de alguns resultados promissores destes seus primeiros sete meses de atividade.
Há, finalmente, os que privilegiam as grandes tendências, quer numa ótica valorizadora do desenvolvimento já alcançado pelo país (acima duas proxies dos níveis de mais elevada escolaridade e de pobreza vistas numa perspetiva de quarenta anos) quer numa ótica salientadora da incontornável importância futura do país no contexto internacional (p.e., que a Índia disporá, a uma larga distância, da maior força de trabalho à escala mundial em meados do século).
Concluo: após me ter referido, num post de 28 de setembro passado, a um confronto de titãs na Índia e por lá ter dado conta da múltipla conflitualidade existente entre dois grandes economistas indianos, Sen e Bhagwati, espero ter conseguido hoje reforçar melhor a ideia do gigantismo do que vai estar em jogo em metrópoles como Bombaim, Nova Deli, Bangalore ou Calcutá e por todos esses vinte e oito estados e sete territórios da união que formam a República da Índia...
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