Foi uma manhã intensa em Aljustrel nas Conferências
organizadas pela Câmara Municipal, com a mão e a capacidade de animação local
do José Carlos Albino a fazerem a diferença e a justificarem plenamente um
auditório do Cinema Oriental praticamente cheio.
Talvez a ideia central da sessão inaugural em que
estive tenha sido a que resultou da intervenção de José Pacheco Pereira que
considerou o modelo da iniciativa bem mais contributivo para uma inquietude
nacional positiva do que a caterva de seminários e encontros organizados pelo
jornalismo económico em circuito fechado, adestrando a retórica do inevitável. O
estímulo ao escrutínio, à crítica da retórica do branqueamento, à inquietação, à
resistência passou pela intervenção de Pacheco Pereira como um registo bem
identificado com a matriz identitária da Região. Foi particularmente importante
a tese por ele enunciada de que no momento que atravessamos não basta ter os
problemas bem identificados e propostas de solução. É necessário que problemas
mais vastos com incidência na sociedade portuguesa sejam ultrapassados para que
essas agendas territoriais tenham êxito, como a crise generalizada de
confiança, a própria crise da democracia e da sua legitimação ou a
partidocracia. E sem a ultrapassagem desses problemas mais vastos, o tempo
encarregar-se-á de agravar sistematicamente os efeitos da austeridade,
transformando-a num processo que será difícil parar.
Tudo isto acabou por combinar bem com a minha
ideia de que para pensar o modelo de desenvolvimento e a inovação territorial é
necessário poder respirar, invertendo ou pelo menos sustendo os tais processos
dinâmicos penalizadores da austeridade.
À hora em que escrevo, cansado por um dia difícil,
completado à tarde com uma reunião de trabalho com Comunidades Intermunicipais
e Associações de Desenvolvimento em Évora, não imagino que impacto terá tido
uma manhã de debate tão vivido, ao qual se juntou a perspetiva lúcida do Professor Jorge Malheiros sobre o declínio
demográfico e a sua diferente incidência territorial no país. Mas qualquer que
vá ser esse impacto, o que fica é uma boa manhã de cidadania num território de
resistência.
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