sexta-feira, 4 de abril de 2014

CIDADANIA EM ALJUSTREL



Foi uma manhã intensa em Aljustrel nas Conferências organizadas pela Câmara Municipal, com a mão e a capacidade de animação local do José Carlos Albino a fazerem a diferença e a justificarem plenamente um auditório do Cinema Oriental praticamente cheio.
Talvez a ideia central da sessão inaugural em que estive tenha sido a que resultou da intervenção de José Pacheco Pereira que considerou o modelo da iniciativa bem mais contributivo para uma inquietude nacional positiva do que a caterva de seminários e encontros organizados pelo jornalismo económico em circuito fechado, adestrando a retórica do inevitável. O estímulo ao escrutínio, à crítica da retórica do branqueamento, à inquietação, à resistência passou pela intervenção de Pacheco Pereira como um registo bem identificado com a matriz identitária da Região. Foi particularmente importante a tese por ele enunciada de que no momento que atravessamos não basta ter os problemas bem identificados e propostas de solução. É necessário que problemas mais vastos com incidência na sociedade portuguesa sejam ultrapassados para que essas agendas territoriais tenham êxito, como a crise generalizada de confiança, a própria crise da democracia e da sua legitimação ou a partidocracia. E sem a ultrapassagem desses problemas mais vastos, o tempo encarregar-se-á de agravar sistematicamente os efeitos da austeridade, transformando-a num processo que será difícil parar.
Tudo isto acabou por combinar bem com a minha ideia de que para pensar o modelo de desenvolvimento e a inovação territorial é necessário poder respirar, invertendo ou pelo menos sustendo os tais processos dinâmicos penalizadores da austeridade.
À hora em que escrevo, cansado por um dia difícil, completado à tarde com uma reunião de trabalho com Comunidades Intermunicipais e Associações de Desenvolvimento em Évora, não imagino que impacto terá tido uma manhã de debate tão vivido, ao qual se juntou a perspetiva lúcida do Professor Jorge Malheiros sobre o declínio demográfico e a sua diferente incidência territorial no país. Mas qualquer que vá ser esse impacto, o que fica é uma boa manhã de cidadania num território de resistência.

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