domingo, 27 de abril de 2014

“FIM DE CRISE”


Vive-se por toda a Europa, com especial incidência na sua periferia a sul (os agora subitamente transformados em ex-PIIGS), uma euforia ridícula e perfeitamente incompreensível assente numa espécie de proclamação por decreto do fim da crise. Uma demagogia que serve certos interesses bem identificáveis e ainda poderá acabar por custar muito mais caro aos respetivos povos.


Repisando argumentos já aqui aduzidos no post do dia 22, a tendência descendente dos yields é comum a todos os países e só é milagrosa para censuráveis fins de uso político doméstico. Porque a razão/motivação subjacente àquela tendência não é interna nem a cada um dos países individualmente considerados nem mesmo à Zona Euro que a todos envolve.

De facto, começou por ser a declaração de Draghi do Verão de 2012 a vir suster uma especulação organizada e que, assaz tipicamente, se concentrava nos elos fracos de um alvo inesperadamente posto a descoberto e sucessivamente revelado à mercê. Ao que se adicionaram depois os efeitos conjugados de uma crescente liquidez acumulada nos mercados e de crescentes deficiências associadas às suas condições de rentabilidade (em resultado, designadamente, de focos de variada instabilidade que foram dominando a cena internacional em geral e os países emergentes em particular).


Se assim não fora, como explicar os recordes invariavelmente registados nas taxas de juro das obrigações a 10 anos de todos os periféricos participantes da moeda única? Alguém em seu perfeito juízo, e com mínimos de decência intelectual, pode acreditar que tal decorreu de uma consciencialização pelos mercados – acompanhada do respetivo e reconhecido agradecimento – dos efeitos curativos das maravilhosas políticas conduzidas pelos santos encarregues (Passos, Portas e Albuquerque incluídos, no que mais especialmente nos toca)? Ou que raio de poção mágica teriam então ingerido, entre o Natal e a Páscoa (conforme gráfico acima) e concomitantemente, gregos, portugueses e irlandeses (como também espanhóis e italianos) para receberem tais favores dos deuses mercantis?

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