sexta-feira, 4 de abril de 2014

A VIDA CONTINUA...


Foi-me sinceramente penoso ler o artigo “Todo o político é um homem”, assinado por Luís Filipe Menezes ontem no “Jornal de Notícias”. Porque, embora dele tenha quase sempre divergido politicamente ao longo de todos estes anos, nele aprendi a reconhecer um homem público combativo e bem intencionado. E porque a auto-confissão de um estado depressivo que parece não dar mostras de recuar desde a derrota eleitoral no Porto é tão pungente e autocontemplativa quanto desesperadamente agarrada à centralidade da família e forçadamente recorrente à proclamação da esperança.

O texto começa pleno de melancolia: “Há semanas que me debato com um estado de alma, que me é periodicamente habitual. O que sou, o que fiz, para que ainda servirei, pelo que ainda devo lutar?” Salienta, mais adiante, uma enorme carga de desengano: “Constatei que me entreguei a tudo aquilo por que passei com paixão abnegada, com espírito de missão. Pensei pouco em mim e ainda menos naqueles que mais amava. Vi a 29 de setembro centenas de figurantes desertarem, foi, contudo, uma experiência muito educativa.” E acaba com promessas pias: “Dessa depuração ficou um pequeno núcleo de fiéis a que se juntaram rapidamente outros novos crentes vindos do nada. Com essa ‘equipa’ começamos de imediato a conceptualizar projetos, empresas e iniciativas. Vi assim renascer o velho entusiasmo de há 20 anos, mas só que depurado do lixo dos interesses.”

Diz o povo, e é bem verdade, que “quem andou não tem para andar”. Mas o povo também ensina aquele “aproveita o que diz o velho e valerá por dois o conselho”. De facto, tão lastimável é recusar os sinais que a vida nos vai transmitindo como o é desaproveitar a experiência que ela nos vai conferindo. Que tal uma síntese criadora, meu caro Luís Filipe?

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