terça-feira, 1 de abril de 2014

DIA DAS MENTIRAS

(Luís Afonso, http://www.publico.pt)


(S. H. Chambers, http://www.shchambers.com)

Primeiro de abril, o dia em que estão institucionalmente autorizadas as mentiras brincalhonas que por cá se vão quotidianamente dizendo com ar de grande seriedade. Piedosamente, dirão os menos mal intencionados, argumentando em seu favor que sempre é preferível o conforto de algumas mentiras ao incómodo das terríveis verdades.

A última chegou-nos ontem, com a divulgação do saldo final registado pelas contas públicas portuguesas em 2013, e vem sendo repetida hoje por tudo quanto é (des)informação económica (abaixo um excerto da primeira página do “Diário Económico”) e marketing político pró-governamental. A ideia veiculada é, no essencial, a seguinte: o nosso défice público de 2013 ter-se-á situado em 4,9% do PIB, i.e., 0,6 pontos percentuais (cerca de mil milhões de euros, mais exatamente 962 milhões) abaixo dos 5,5% negociados com a Troika, um resultado classificado como fantástico porque assim nos iria permitir baixar mais facilmente o défice de 2014 para os 4% pactados.

Só que é mentira! Como sempre acontece na vida, o diabo esconde-se nos detalhes e o facto é que foi uma receita extraordinária e irrepetível – a que proveio do programa de regularização das dívidas fiscais e rendeu 1280 milhões de euros – a explicar largamente a redução conseguida. O que vale por dizer que teremos de voltar a um valor próximo da estaca de partida dos tais 5,5% para avaliar a consolidação orçamental a realizar ex novo durante o ano em curso, que não corresponderá apenas àquele valor em torno de 1300 milhões de euros de que matematicamente se fala mas sim aos mais de dois mil que as Finanças desesperadamente buscam...


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