Já lá vão muitos anos, estou
a referir-me mais propriamente à segunda metade dos anos 70, com a Faculdade de
Economia do Porto a fervilhar em termos de entusiasmo simultaneamente na construção
de novos programas de formação em economia e no estudo mais aprofundado da
economia portuguesa, o então existente GEBEI, se a memória não me atraiçoa Grupo
de Estudos Básicos em Economia Industrial, ensinava-nos a olhar de modo
diferente para as exportações nacionais. Na altura, o uso das matrizes de input-output aplicadas às exportações
permitia, pelo menos, isolar o conteúdo importado dessas exportações e já nessa
altura se falava de valor acrescentado pelas exportações. Essa geração de
economistas aplicados produziu um capital de conhecimento que veio
progressivamente a perder-se em sucessivas mudanças institucionais. A
relativamente recente destruição do Departamento de Prospetiva e Planeamento,
concomitante com a saída de cabeças como Félix Ribeiro e Natalino Martins, foi
a machadada final nesse conhecimento.
Entretanto dos tempos
fervilhantes dos anos 70 aos nossos dias, a metodologia de análise estrutural
das exportações evoluiu profundamente, sobretudo graças à possibilidade de
utilização de matrizes de input-outputs globais, isto é, envolvendo dados provenientes
de vários países e de diferentes matrizes input-output nacionais. Tal evolução
foi inequivocamente determinada pela necessidade analítica de medir o
posicionamento dos países nas cadeias de valor globais, que se tornaram o foco
das atenções a partir do momento em que os processos produtivos estão
irreversivelmente segmentados à escala mundial, com intensificação do comércio
internacional de produtos intermédios que vão acabar por ser transformados e
integrados algures na economia mundial.
Foi com grande regozijo pessoal
que verifiquei que o Banco de Portugal, através da sua nata de economistas, está
neste momento a retomar esse tipo de análise empírica e a melhor documentar o
que valem afinal as exportações portugueses e, simultaneamente, a poder
evidenciar que lugar a economia e as empresas portuguesas ocupam nessas cadeias
de valor globais. O Boletim Económico da Primavera do Banco de Portugal dá
conta desse trabalho através de um artigo que se recomenda de João Amador e
Robert Stherer, este último economista do Vienna Institute for International
Economic Studies, “As exportações portuguesas nas cadeias de
valor globais”.
Os aprofundamentos da técnica
de análise permitiram trazer para a quantificação novos conceitos: Valor acrescentado
externo nas exportações (valor acrescentado no exterior que surge representado
nos consumos intermédios presentes nas exportações nacionais), valor
acrescentado nacional nas exportações (já conhecido dos velhos tempos), Valor
acrescentado nacional nas importações (valor acrescentado nacional previamente
exportado e que volta a Portugal por exemplo em automóveis importados) e valor
acrescentado nacional incorporado nas importações que é reexportado.
As evidências recolhidas por
João Amador colocam Portugal numa situação intermédia nas cadeias de valor, não
na pré-fabricação com muita incorporação de conhecimento e não perto do
consumidor final, mostrando que Portugal está ainda longe, medida pelo peso do
valor acrescentado externo presente nas exportações portuguesas. Do ponto de
vista setorial e apenas a simples título de exemplo, compare-se por exemplo o
peso do Valor Acrescentado Externo nas Exportações no setor do calçado (26,8%)
e no setor dos equipamentos de transporte (42,9%). É este tipo de exemplos que
ajuda a compreender o novo conhecimento estrutural das exportações que estes indicadores
possibilitam e o real contributo das exportações para o crescimento económico tão
desejado.
Sem comentários:
Enviar um comentário