Os tempos estão difíceis para o pensamento económico
e neste quadro desafiador vão desaparecendo os grandes vultos da economia,
mesmo os que pontificam no mainstream
que tanto combatemos neste blogue.
Desapareceu sábado um grande vulto da Escola
de Chicago, Gary Becker, responsável e iniciador, entre outros aspetos, pelo
que costumo designar de a invasão disciplinar da economia. A economia da lei, a
economia do crime, a economia da família e da fertilidade são exemplos da invasão
de domínios por parte da economia que, em regra, estão adstritos a outras ciências
sociais que Becker iniciou, não ignorando os seus contributos iniciais para a
teoria do capital humano.
No seu recente curso sobre a Grande Recessão de
2007-2008, Krugman escreve que: Estratégia = ensinar primeiro o mainstream e
depois a controvérsia. Por mim, sempre preferi ler o mainstream na origem e nos seus grandes vultos do que perder
pestanas ou cansar os olhos com os lacaios vulgarizadores. A pretensa
universalidade dos comportamentos económicos que Becker tanto prosseguiu é poderosa
mas só pode ser criticada nos pressupostos que lhe estão subjacentes, questão
que tem aproximado bastante a economia e a psicologia, sobretudo do ponto de
vista da tipificação de comportamentos distintos e menos padronizados do que a
maximização da chamada utilidade inter-temporal representa.
John Cassidy, no seu Rational Irrationality da New Yorker, dedica-lhe não só um importante artigo, mas também a reprodução de
uma entrevista que Becker lhe concedeu em 2008 e que faz parte de um documento
de história do pensamento económico que, estou em crer, terei sido dos únicos a
atribuir-lhe a atenção devida e que já foi objeto neste blogue de ampla referência.
Trata-se do conjunto de entrevistas que Cassidy realizou a praticamente todos
os vultos da Escola de Chicago e nas quais é possível confirmar que a Escola se
dividiu entre os que foram atingidos pela crise de 2007-2008 e os que não
abriram brechas e continuaram a defender a sua dama.
Para mal dos nossos pecados, Becker teve razão em
2008, pelo menos a curto prazo, quando antecipou que a Grande Recessão de
2007-2008 não iria provocar o mesmo impacto na transformação da ciência económica
que a Grande Depressão de 1929-30 produziu com a revolução keynesiana. Como
dizia ontem estas transformações são lentas e não é seguro que a médio-longo
prazo Becker não se tenha enganado. Mas vale a pena reler com espírito aberto
(o melhor para o discernimento da crítica) a entrevista de Becker a Cassidy, que pode ler aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário