quarta-feira, 7 de maio de 2014

NO FARO DE VIGO



Com alguma frequência, o Faro de Vigo dedica a Portugal e ao Norte suplementos, normalmente ao sábado, que ilustram bem o interesse que os galegos e a sua opinião pública dedicam ao que por cá se passa. O jornal tem uma boa difusão nos territórios transfronteiriços e mesmo no Porto existe um segmento de público, em regra identificado com o comércio portuense, que lê com alguma regularidade o Faro de Vigo.
Pelas boas graças do Eixo Atlântico, o jornalista José Angel Otero que se ocupa regularmente de tais suplementos tem a bondade de me ouvir.
Será este o caso do suplemento do próximo fim-de-semana dedicado ao fim do resgate financeiro da economia portuguesa.
Para memória futura e desconhecendo o modo como o testemunho será tratado na reportagem, aqui fica para um limite de 400 palavras a minha abordagem às três questões apresentadas:
Balance de los años de rescate
“Em muito poucas palavras, o resgate da economia portuguesa traduz-se em alguns ganhos de credibilidade no acesso aos mercados de financiamento internacional, em alguma recuperação do défice público, numa recuperação não sustentada do défice externo (conseguido sobretudo com redução forçada de importações) e com custos sociais desproporcionados, empobrecimento, desigualdade, fratura da classe média e da coesão social, face aos resultados alcançados. O problema da dívida pública e das empresas privadas subsiste e paradoxalmente o peso da dívida pública no PIB aumentou apesar dos custos sociais. E mais importante do que tudo isto, o resgate introduziu na economia portuguesa efeitos perversos dinâmicos a longo prazo: dado o desemprego de jovens qualificados, as famílias e indivíduos duvidam hoje do retorno dos seus investimentos em educação e formação, invertendo uma conquista que levou décadas a cimentar; os incentivos à inovação empresarial são contrariados pelo ambiente de baixos salários; a mobilidade social ascendente está bloqueada, comprometendo a democracia; os cidadãos não confiam no Estado.
Para além disso, registou-se uma positiva reorientação da alocação de recursos da economia portuguesa para os mercados externos (transacionáveis), embora à custa de uma destruição mais do que necessária do mercado interno e de empregos associados.”
Cómo ve el futuro económico del país?
“O nível de endividamento público e das empresas (as famílias foram as únicas a reduzir com alguma expressão o seu endividamento) constituirá o principal constrangimento estrutural do país nos próximos anos, sobretudo pelas implicações que pode determinar em matéria de libertação de recursos para investimento, público e privado. Grande parte da recuperação das exportações foi conseguida com capacidade produtiva já instalada e que não estava aproveitada. A continuidade da dinâmica exportadora implicará investimento, sem o qual o crescimento será mitigado. O desafio do desemprego estrutural e de longa duração constituirá a principal interrogação do futuro económico do País, com as consequentes limitações de produto potencial e de coesão social.
Permanece também o desafio de construir um novo modelo de competitividade para a economia portuguesa, não baseado em baixos salários, mas antes na inovação, incorporação de conhecimento, na melhoria de qualificações, atração de investimento estrangeiro que alavanque uma nova trajetória tecnológica.
Es el momento adecuado para levantar el rescate o habría que esperar algo más?
Do ponto de vista da autoestima do país e da credibilidade internacional, é sempre preferível estar fora do resgate do que nele mergulhado. A situação europeia, a necessidade de branquear os efeitos da austeridade a todo o preço antes das eleições europeias e a baixa generalizada dos juros a 10 anos da periferia do sul da Europa determinaram a saída do resgate e a saída limpa para Europa ver. Como economia de pequena dimensão inserida na zona Euro, os problemas da economia portuguesa são indissociáveis de uma solução construída no quadro da União Europeia, sobretudo com a insustentabilidade do peso da dívida pública e das empresas e com o seu crescimento fortemente dependente do crescimento europeu.”

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