Com alguma frequência, o Faro de Vigo dedica a
Portugal e ao Norte suplementos, normalmente ao sábado, que ilustram bem o
interesse que os galegos e a sua opinião pública dedicam ao que por cá se
passa. O jornal tem uma boa difusão nos territórios transfronteiriços e mesmo
no Porto existe um segmento de público, em regra identificado com o comércio
portuense, que lê com alguma regularidade o Faro de Vigo.
Pelas boas graças do Eixo Atlântico, o jornalista
José Angel Otero que se ocupa regularmente de tais suplementos tem a bondade de
me ouvir.
Será este o caso do suplemento do próximo
fim-de-semana dedicado ao fim do resgate financeiro da economia portuguesa.
Para memória futura e desconhecendo o modo como o
testemunho será tratado na reportagem, aqui fica para um limite de 400 palavras
a minha abordagem às três questões apresentadas:
Balance de los años de rescate
“Em muito poucas palavras, o resgate da economia
portuguesa traduz-se em alguns ganhos de credibilidade no acesso aos mercados
de financiamento internacional, em alguma recuperação do défice público, numa
recuperação não sustentada do défice externo (conseguido sobretudo com redução
forçada de importações) e com custos sociais desproporcionados, empobrecimento,
desigualdade, fratura da classe média e da coesão social, face aos resultados
alcançados. O problema da dívida pública e das empresas privadas subsiste e
paradoxalmente o peso da dívida pública no PIB aumentou apesar dos custos
sociais. E mais importante do que tudo isto, o resgate introduziu na economia
portuguesa efeitos perversos dinâmicos a longo prazo: dado o desemprego de
jovens qualificados, as famílias e indivíduos duvidam hoje do retorno dos seus
investimentos em educação e formação, invertendo uma conquista que levou
décadas a cimentar; os incentivos à inovação empresarial são contrariados pelo
ambiente de baixos salários; a mobilidade social ascendente está bloqueada,
comprometendo a democracia; os cidadãos não confiam no Estado.
Para além disso, registou-se uma positiva reorientação da
alocação de recursos da economia portuguesa para os mercados externos
(transacionáveis), embora à custa de uma destruição mais do que necessária do
mercado interno e de empregos associados.”
Cómo ve el futuro económico del país?
“O nível de endividamento público e das empresas (as
famílias foram as únicas a reduzir com alguma expressão o seu endividamento)
constituirá o principal constrangimento estrutural do país nos próximos anos,
sobretudo pelas implicações que pode determinar em matéria de libertação de
recursos para investimento, público e privado. Grande parte da recuperação das
exportações foi conseguida com capacidade produtiva já instalada e que não
estava aproveitada. A continuidade da dinâmica exportadora implicará
investimento, sem o qual o crescimento será mitigado. O desafio do desemprego
estrutural e de longa duração constituirá a principal interrogação do futuro
económico do País, com as consequentes limitações de produto potencial e de
coesão social.
Permanece também o desafio de construir um novo modelo de
competitividade para a economia portuguesa, não baseado em baixos salários, mas
antes na inovação, incorporação de conhecimento, na melhoria de qualificações,
atração de investimento estrangeiro que alavanque uma nova trajetória
tecnológica. “
Es el momento adecuado para levantar el rescate o habría
que esperar algo más?
“Do ponto de vista da autoestima do país e da
credibilidade internacional, é sempre preferível estar fora do resgate do que
nele mergulhado. A situação europeia, a necessidade de branquear os efeitos da
austeridade a todo o preço antes das eleições europeias e a baixa generalizada
dos juros a 10 anos da periferia do sul da Europa determinaram a saída do
resgate e a saída limpa para Europa ver. Como economia de pequena dimensão
inserida na zona Euro, os problemas da economia portuguesa são indissociáveis
de uma solução construída no quadro da União Europeia, sobretudo com a
insustentabilidade do peso da dívida pública e das empresas e com o seu
crescimento fortemente dependente do crescimento europeu.”
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