quinta-feira, 22 de maio de 2014

SUSTENTÁVEL?


A relevante questão da sustentabilidade da dívida, tão discutida entre nós com base no “acho que” e no “parece-me”, foi objeto de um interessante estudo (“How Can Governments Borrow so Much?”) realizado por investigadores universitários baseados na Suíça (Fabrice Collard, U. Berna; Michel A. Habib, U. Zurique e CEPR; Jean-Charles Rochet, U. Zurique e Toulouse School of Economics) e há dias divulgado publicamente em Espanha por iniciativa da Fundação BBVA e do diário “Expansión”.

Traduzida de forma simples, a ideia mestra dos autores é a de que o máximo de endividamento sustentável (i.e., que se pode pagar sem problemas) advém de uma combinação de variáveis incluindo essencialmente o saldo primário esperado, o crescimento previsto, a volatilidade do crescimento e o quantum de dívida que o governo possa justificadamente aspirar a obter no futuro.

Que resultados mais relevantes? Pois que Portugal surge colocado, juntamente com a Grécia e a Itália, fora da zona de sustentabilidade (que é situada, no nosso caso, entre 73,55% e 91.94% do PIB). E que as situações da Irlanda, Bélgica e Espanha, embora ainda caibam dentro de limites aceitáveis, já se apresentam como significativamente preocupantes, logo seguidas pela de uma França que se aproxima a passos largos do respetivo limite inferior.

Três notas ainda, provenientes da conferência de Madrid: a primeira associada à curiosidade de que uma eventual aplicação desta fórmula de cálculo dos níveis de dívida sustentável teria permitido antecipar o problema grego desde 1990; a segunda relativa a Espanha, quer para sublinhar que 2010 foi um momento de “pânico irracional” em que era praticamente nula a probabilidade de uma rotura de pagamentos quer para salientar que as condições atuais apontam para que essa probabilidade já “não seja desprezível”; a terceira para reiterar a inconsequência decorrente da fixação de um nível concreto de dívida aplicável a um determinado país e, por extensão lógica, a um conjunto heterogéneo de países (como se pretendeu no “estúpido” Pacto de Estabilidade que nos trouxe até aqui).

Resumindo e concluindo: se seguíssemos de perto a argumentação do inefável Marques Guedes, os autores do estudo seriam qualificados de verdadeiros e absolutos profetas da desgraça!

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