(David Blanchflower)
(Adam Posen)
A enorme diferença existente entre os objetivos
estatutários do Banco Central Europeu (fruto da ortodoxia monetária que apanhou
historicamente os não ortodoxos a apanhar bonés) e do Banco da Reserva Federal
americano explica que este último produza um impacto bem mais decisivo na
investigação económica. É que pelo facto dos objetivos estatutários do FED incluírem
a regulação do desemprego e dos disfuncionamentos do mercado de trabalho, isso
obriga a uma monitorização macroeconómica bem mais ampla.
Vem isto a propósito do debate enriquecedor que
vem sendo travado nos Estados Unidos sobre o grau de desocupação do mercado de
trabalho ou, visto pelo seu simétrico, sobre a eventual tensão que a lenta
recuperação da economia americana estará a determinar no mercado de trabalho, à
medida que os sucessivos meses vão anunciando o volume de empregos criados.
Para um iniciado na formação económica, esta
questão aparentemente não implica um debate tão enriquecedor como o que está
neste momento a ser travado. Afinal, a taxa de desemprego constitui nessa
perspetiva o indicador incontornável, anunciando a sua descida que o mercado de
trabalho estará progressivamente em tensão e que a política monetária deve ter
isso em conta.
Mas a questão está longe de ser pacífica,
constituindo um sinal de que o iniciado em economia tem de fazer um esforço
suplementar para poder entrar ativamente no referido debate.
A economista Janet Yellen, neste momento à frente
dos destinos do FED, tratou de explicitar num dos seus primeiros escritos com a
chancela institucional do FED que o regulador necessitava de incorporar
informação sobre uma ampla bateria de indicadores de funcionamento do mercado
de trabalho, para complementar a informação central fornecida pela taxa de
desemprego. Tais indicadores vão desde de captar mais fielmente as dinâmicas de
fluxos entre as três situações principais no mercado de trabalho, emprego,
desemprego e inatividade, sendo mesmo necessário captar quais entre as saídas
do emprego ou do desemprego para a inatividade apresentam a maior probabilidade
de voltarem à procura de um posto de trabalho ou de permanecerem
desincentivados a fazê-lo. Mas essa bateria de indicadores inclui também a
evolução da taxa de participação da força de trabalho e a evolução da própria evolução
desta última. Todos estes movimentos tendem a afetar quer o numerador da taxa
de desemprego (massa de desempregados), quer o denominador (dimensão da população
ativa) e podem assim fornecer indicações complementares relevantes para ler
integradamente o comportamento da taxa de desemprego.
Aliás, a economia americana é particularmente
apelativa nesta matéria, pois há indicadores desta bateria que se encontram
ainda bastante abaixo do valor que apresentavam no período imediatamente
anterior à crise de 2007-2008.
Nos últimos dias, os economistas David Blanchflower e Adam Posen propuseram uma medida que me é bastante cara para monitorizar o
mandato dual do FED (taxa de inflação e desemprego), entendida como um melhor
indicador do grau de depressão do mercado de trabalho, praticamente insensível às
questões da inatividade. O que os economistas propõem é a inflação-salários (variação
da taxa salarial) como medida dessa desocupação do mercado de trabalho.
O que me parece relevante de assinalar é que a
inflação-salários não é aqui apresentada como indicador de monitorização da
(ins) estabilidade dos preços, mas antes da dimensão do mandato dual do FED que
se refere à economia real, o mercado de trabalho.
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