quinta-feira, 8 de maio de 2014

COMO SE MEDE A TENSÃO NO MERCADO DE TRABALHO?

(David Blanchflower)
(Adam Posen)

A enorme diferença existente entre os objetivos estatutários do Banco Central Europeu (fruto da ortodoxia monetária que apanhou historicamente os não ortodoxos a apanhar bonés) e do Banco da Reserva Federal americano explica que este último produza um impacto bem mais decisivo na investigação económica. É que pelo facto dos objetivos estatutários do FED incluírem a regulação do desemprego e dos disfuncionamentos do mercado de trabalho, isso obriga a uma monitorização macroeconómica bem mais ampla.
Vem isto a propósito do debate enriquecedor que vem sendo travado nos Estados Unidos sobre o grau de desocupação do mercado de trabalho ou, visto pelo seu simétrico, sobre a eventual tensão que a lenta recuperação da economia americana estará a determinar no mercado de trabalho, à medida que os sucessivos meses vão anunciando o volume de empregos criados.
Para um iniciado na formação económica, esta questão aparentemente não implica um debate tão enriquecedor como o que está neste momento a ser travado. Afinal, a taxa de desemprego constitui nessa perspetiva o indicador incontornável, anunciando a sua descida que o mercado de trabalho estará progressivamente em tensão e que a política monetária deve ter isso em conta.
Mas a questão está longe de ser pacífica, constituindo um sinal de que o iniciado em economia tem de fazer um esforço suplementar para poder entrar ativamente no referido debate.
A economista Janet Yellen, neste momento à frente dos destinos do FED, tratou de explicitar num dos seus primeiros escritos com a chancela institucional do FED que o regulador necessitava de incorporar informação sobre uma ampla bateria de indicadores de funcionamento do mercado de trabalho, para complementar a informação central fornecida pela taxa de desemprego. Tais indicadores vão desde de captar mais fielmente as dinâmicas de fluxos entre as três situações principais no mercado de trabalho, emprego, desemprego e inatividade, sendo mesmo necessário captar quais entre as saídas do emprego ou do desemprego para a inatividade apresentam a maior probabilidade de voltarem à procura de um posto de trabalho ou de permanecerem desincentivados a fazê-lo. Mas essa bateria de indicadores inclui também a evolução da taxa de participação da força de trabalho e a evolução da própria evolução desta última. Todos estes movimentos tendem a afetar quer o numerador da taxa de desemprego (massa de desempregados), quer o denominador (dimensão da população ativa) e podem assim fornecer indicações complementares relevantes para ler integradamente o comportamento da taxa de desemprego.
Aliás, a economia americana é particularmente apelativa nesta matéria, pois há indicadores desta bateria que se encontram ainda bastante abaixo do valor que apresentavam no período imediatamente anterior à crise de 2007-2008.
Nos últimos dias, os economistas David Blanchflower e Adam Posen propuseram uma medida que me é bastante cara para monitorizar o mandato dual do FED (taxa de inflação e desemprego), entendida como um melhor indicador do grau de depressão do mercado de trabalho, praticamente insensível às questões da inatividade. O que os economistas propõem é a inflação-salários (variação da taxa salarial) como medida dessa desocupação do mercado de trabalho.
O que me parece relevante de assinalar é que a inflação-salários não é aqui apresentada como indicador de monitorização da (ins) estabilidade dos preços, mas antes da dimensão do mandato dual do FED que se refere à economia real, o mercado de trabalho.

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