Por várias vezes refleti com os meus botões que a
arrogante e tripa forra governação do Engenheiro Jardim e sua comitiva no BCP
haveria de gerar salpicos fétidos e incómodos. Estamos perante um claríssimo
exemplo de viciada corporate governance
neste caso de uma instituição bancária, com reduzidos níveis de accountability no interior da própria
sociedade, sobretudo gerada em torno de informação pouco transparente. No caso
de Jardim e certamente de alguns elementos da sua comitiva, acresce que temos o
flagrante desvio entre o rigor moral e ético que os apaniguados da OPUS DEI
costumam apresentar como bandeira da sua maneira de estar na sociedade e o
desproporcionadíssimo valor das suas remunerações e posteriores indemnizações. É
verdade que, neste caso, apesar do vergonhoso caso de incompetência coletiva da
prescrição do caso com acusação pelo Banco de Portugal, a culpa não morreu
solteira e tivemos penalização pelo crime de manipulação de mercado, com pena
suspensa de dois anos e pagamento de multa avultada em termos absolutos mas
claramente irrisória face ao valor das suas indemnizações. O processo movido
pela CNVM está ainda em curso.
O caso BCP ilustra à nossa escala (da banca e da
economia) a perigosa deriva em que o sistema financeiro mergulhou na sequência
da desregulação que a globalização financeira determinou, permanecendo como um
dos fatores chave da instabilidade da economia global e certamente responsável,
entre outros fatores, pelo agravamento do confronto dos 1% versus os 99% da
sociedade.
A minha preocupação pelos salpicos do caso BCP
prende-se com as consequências de chicana política e pessoal que um caso destes
pode determinar, sobretudo em contexto de comunicação social pouco rigorosa em matéria
de jornalismo de investigação. E tanto mais que sempre considerei para mim próprio
que muito dificilmente o responsável pelo Banco de Portugal, Carlos Costa, não
iria ser malevolamente atingido por esses salpicos, na sequência da sua
passagem pela função de Diretor Internacional do BCP. As relações de amizade
que tenho com o governador Banco Portugal permitem-me estar absolutamente seguro
acerca do comportamento profissional e ético rigoroso que sempre associou aos
diferentes lugares e organizações onde inscreveu a sua atividade. É em relação
a essa confiança no rigor ético e profissional do Governador do Banco de
Portugal e também à importância estratégica crucial de termos um regulador em
que o sistema e sobretudo o país confiem que me incomoda bastante o
aparecimento do tema, ainda por cima através de duas vozes que considero bastante,
mais em termos de rigor e qualidade científica do que propriamente por via da
sua visibilidade política: Francisco Louçã (economia política) e Pedro Adão e
Silva (ciência política).
Francisco Louçã numa ação de pré-campanha
eleitoral do Bloco de Esquerda (que apanhei em zapping televiso do curto período
em que vejo TV a seguir ao jantar) e Pedro Adão e Silva (hoje em artigo no
Expresso), usando praticamente a mesma base factual, desenterram o testemunho
em julgamento de Christopher de Beck (um dos administradores do BCP ilibados no
processo e que tinha a particularidade de, quando vinha ao Porto, almoçar com
criado de libré nas instalações do Banco) para claramente (com que intuito?) salpicar
a passagem de Carlos Costa pela Direção Internacional do BCP e a sua atual função
de governador.
Estou convicto que o Governador do Banco de
Portugal está consciente do escrutínio necessário de toda esta questão para bom
exercício da sua função de governador e sobretudo tranquilo quanto à consistência
e rigor do seu próprio depoimento no processo BCP. Não deixo de estranhar que
as duas personalidades, Francisco Louçã e Pedro Adão e Silva, peguem no caso
por esta via.
Pela minha parte, não posso deixar de expressar a
minha total e absoluta solidariedade para com o rigor profissional e ético do
amigo Carlos Costa que por acaso é governador do Banco de Portugal. Ambos
sabemos que a exposição do serviço público é elevada e que ela é máxima no caso
do Banco de Portugal. Por isso, o que resta é a expressão de um abraço amigo e
solidário de quem não tem essa exposição.
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