Estamos em tempos de publicação da história
recente. Nos Estados Unidos, o ex-secretário de Estado do Tesouro, Timothy
Geithner (ver post anterior) avança com a publicação de um livro, Stress Test, creio que hoje apresentado em
Nova Iorque, do qual se esperam elementos cruciais para compreender o pós-falência
do Lehman Brothers, sobretudo a decisão de injetar uma pipa de massa em Wall
Street (recuperada segundo o próprio Geithner na peça jornalística de Sorkin
para o New York Times). E, mesmo sem a obra ter chegado às bancas, o debate está
já ao rubro. Veja-se, por exemplo, as 20 questões que Bradford DeLong coloca como de esclarecimento necessário por parte do livro de Geithner.
Do lado de cá do Atlântico, enquanto se vai
conhecendo melhor o contexto do PEC IV, o seu chumbo na Assembleia da República
e o pedido de resgate (minudências em universo mais graúdo), o Financial Times pela pena de Peter Spiegel vai dando conta dos bastidores do momento em que o Euro
esteve prestes a explodir. É de fazer chorar as pedras da calçada a descrição
do choro da senhora Merkel perante a ofensiva conjunta do pequeno napoleão
Sarkosy e de Obama. Um fadinho daqueles de fazer chorar todas as mãezinhas do
mundo talvez se justifique para descrever o aperto da senhora perante a nega do
Bundesbank e a recriminação dos seus pares.
Mas a memória recente (até agora não desmentida
por ninguém) mais sugestiva foi a entrevista do ex-conselheiro de Barroso, Philippe Legrain, há sempre um francês nestas coisas mesmo que não se dê pela
sua presença, ao Público.
Pois a entrevista de Legrain é explosiva, mesmo
que tenha de ser avaliada à luz de um possível ajuste de contas com a Comissão
Europeia. Para além de se atirar ao pacto orçamental, de defender a necessidade
dos riscos de bailout não serem
afastados para maior responsabilização dos países em face do seu comportamento
orçamental, de reivindicar a necessidade de maior controlo democrático da
Comissão Europeia e de reclamar a possibilidade do BCE intervir permanentemente
mesmo sem mutualização da dívida, Legrain sai-se com a bomba de que o resgate a
Portugal foi um resgate financeiro dos bancos alemães com o risco da dívida
portuguesa. Há uma evidência que vai ao encontro das posições de Legrain: a percentagem
de dívida portuguesa detida por bancos alemães esfumou-se num ápice.
O que ainda iremos saber nos próximos tempos pode
ser surpreendente, mas talvez não seja suficiente para erradicar toda esta
tralha de gente.
Sem comentários:
Enviar um comentário