segunda-feira, 12 de maio de 2014

MEMÓRIAS DA HISTÓRIA RECENTE



Estamos em tempos de publicação da história recente. Nos Estados Unidos, o ex-secretário de Estado do Tesouro, Timothy Geithner (ver post anterior) avança com a publicação de um livro, Stress Test, creio que hoje apresentado em Nova Iorque, do qual se esperam elementos cruciais para compreender o pós-falência do Lehman Brothers, sobretudo a decisão de injetar uma pipa de massa em Wall Street (recuperada segundo o próprio Geithner na peça jornalística de Sorkin para o New York Times). E, mesmo sem a obra ter chegado às bancas, o debate está já ao rubro. Veja-se, por exemplo, as 20 questões que Bradford DeLong coloca como de esclarecimento necessário por parte do livro de Geithner.
Do lado de cá do Atlântico, enquanto se vai conhecendo melhor o contexto do PEC IV, o seu chumbo na Assembleia da República e o pedido de resgate (minudências em universo mais graúdo), o Financial Times pela pena de Peter Spiegel vai dando conta dos bastidores do momento em que o Euro esteve prestes a explodir. É de fazer chorar as pedras da calçada a descrição do choro da senhora Merkel perante a ofensiva conjunta do pequeno napoleão Sarkosy e de Obama. Um fadinho daqueles de fazer chorar todas as mãezinhas do mundo talvez se justifique para descrever o aperto da senhora perante a nega do Bundesbank e a recriminação dos seus pares.
Mas a memória recente (até agora não desmentida por ninguém) mais sugestiva foi a entrevista do ex-conselheiro de Barroso, Philippe Legrain, há sempre um francês nestas coisas mesmo que não se dê pela sua presença, ao Público.
Pois a entrevista de Legrain é explosiva, mesmo que tenha de ser avaliada à luz de um possível ajuste de contas com a Comissão Europeia. Para além de se atirar ao pacto orçamental, de defender a necessidade dos riscos de bailout não serem afastados para maior responsabilização dos países em face do seu comportamento orçamental, de reivindicar a necessidade de maior controlo democrático da Comissão Europeia e de reclamar a possibilidade do BCE intervir permanentemente mesmo sem mutualização da dívida, Legrain sai-se com a bomba de que o resgate a Portugal foi um resgate financeiro dos bancos alemães com o risco da dívida portuguesa. Há uma evidência que vai ao encontro das posições de Legrain: a percentagem de dívida portuguesa detida por bancos alemães esfumou-se num ápice.
O que ainda iremos saber nos próximos tempos pode ser surpreendente, mas talvez não seja suficiente para erradicar toda esta tralha de gente.

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