Em 3 de Junho de 2013, alertei neste espaço para o
presente envenenado que constituía a criação de uma ligação direta ferroviária
Porto-Vigo sem modernizar suficientemente a linha e as composições e sem
integrar essa ligação com a eletrificação e sinalização do troço entre Nine –
Viana do Castelo-Valença. Os estudos que coordenei para o Eixo Atlântico,
designadamente com recurso à matriz de origens-destino então gentilmente
disponibilizada pela CP, permitiam claramente evidenciar que a ligação
Porto-Vigo só é exequível devidamente ancorada no tráfego regional entre o
Porto-Famalicão-Barcelos e Viana do Castelo. Como então defendi e alertei as
autoridades regionais competentes (Eixo Atlântico, CCDRN e Xunta de Galicia) a
precoce criação do CELTA em ligação direta sem paragens entre Porto e Vigo
cheirava a medida envenenada para justificar depois o seu encerramento
definitivo.
Ora, hoje, a notícia do Público assume todos os
cambiantes de manual apropriado para justificar as minhas reservas. O jornal
fala em decisão política de Ana Pastor (ministra espanhola dos Transportes com
fortes ligações à Galiza) e Álvaro Santos Pereira (também com responsabilidade
dos transportes por força da atamancada orgânica inicial do governo de Passos
Coelho). Arriscaria que por detrás da referida decisão política precipitada
estará fundamentalmente o Secretário de Estado dos Transportes Sérgio Monteiro,
um verdadeiro lobo ao pé do cordeirinho Santos Pereira. Por ironia do destino,
o número médio de passageiros (27) que o CELTA terá transportado nestes últimos
tempos, ele é precisamente igual ao número de passageiros que, em viagem
técnica de estudo que realizei, que nesse dia chegaram a Vigo, depois desse
número ser substancialmente mais elevado no troço até Viana do Castelo. Com
esse número e com os prejuízos associados (tão explicitamente revelados na
notícia do Público), estão criadas as condições para um secretário de Estado
“sempre preocupado” com os contribuintes vir a terreiro dizer que o país não
tem condições para suportar tal encargo. E o pagode apoiará, não se apercebendo
do engodo.
Parece longe e inviabilizada a possibilidade de, na minha
varanda em Seixas, com a foz do Minho lá ao fundo, ver passar um comboio tipo
Alfa Pendular em direção a Vigo e para interligação com o TGV Vigo-Madrid.
Restar-me-ão as aleluias e a frondosa vegetação que já cobre praticamente a
visão da via de caminho de ferro.
P.S. Diz-me entretanto o amigo Xoan Mao do Eixo Atlântico
que a próxima Cimeira Ibérica de 4 de Junho vai dissipar as dúvidas implícitas
nesta notícia. Veremos.
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