segunda-feira, 19 de maio de 2014

PAREÇO BRUXO!



Em 3 de Junho de 2013, alertei neste espaço para o presente envenenado que constituía a criação de uma ligação direta ferroviária Porto-Vigo sem modernizar suficientemente a linha e as composições e sem integrar essa ligação com a eletrificação e sinalização do troço entre Nine – Viana do Castelo-Valença. Os estudos que coordenei para o Eixo Atlântico, designadamente com recurso à matriz de origens-destino então gentilmente disponibilizada pela CP, permitiam claramente evidenciar que a ligação Porto-Vigo só é exequível devidamente ancorada no tráfego regional entre o Porto-Famalicão-Barcelos e Viana do Castelo. Como então defendi e alertei as autoridades regionais competentes (Eixo Atlântico, CCDRN e Xunta de Galicia) a precoce criação do CELTA em ligação direta sem paragens entre Porto e Vigo cheirava a medida envenenada para justificar depois o seu encerramento definitivo.
Ora, hoje, a notícia do Público assume todos os cambiantes de manual apropriado para justificar as minhas reservas. O jornal fala em decisão política de Ana Pastor (ministra espanhola dos Transportes com fortes ligações à Galiza) e Álvaro Santos Pereira (também com responsabilidade dos transportes por força da atamancada orgânica inicial do governo de Passos Coelho). Arriscaria que por detrás da referida decisão política precipitada estará fundamentalmente o Secretário de Estado dos Transportes Sérgio Monteiro, um verdadeiro lobo ao pé do cordeirinho Santos Pereira. Por ironia do destino, o número médio de passageiros (27) que o CELTA terá transportado nestes últimos tempos, ele é precisamente igual ao número de passageiros que, em viagem técnica de estudo que realizei, que nesse dia chegaram a Vigo, depois desse número ser substancialmente mais elevado no troço até Viana do Castelo. Com esse número e com os prejuízos associados (tão explicitamente revelados na notícia do Público), estão criadas as condições para um secretário de Estado “sempre preocupado” com os contribuintes vir a terreiro dizer que o país não tem condições para suportar tal encargo. E o pagode apoiará, não se apercebendo do engodo.
Parece longe e inviabilizada a possibilidade de, na minha varanda em Seixas, com a foz do Minho lá ao fundo, ver passar um comboio tipo Alfa Pendular em direção a Vigo e para interligação com o TGV Vigo-Madrid. Restar-me-ão as aleluias e a frondosa vegetação que já cobre praticamente a visão da via de caminho de ferro.
P.S. Diz-me entretanto o amigo Xoan Mao do Eixo Atlântico que a próxima Cimeira Ibérica de 4 de Junho vai dissipar as dúvidas implícitas nesta notícia. Veremos.

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