domingo, 11 de maio de 2014

TIMOTHY GEITHNER



Para além do próprio Barack Obama, há três personalidades (mais o secretário de Estado do Tesouro da altura Paulsen) que estiveram no coração das decisões que foram tomadas nos EUA em plena crise Lehman Brothers e que daria origem à por demais conhecida mas ainda insuficientemente estudada crise financeira de 2008. Essas três personalidades foram Ben Bernanke à frente dos destinos do FED, Lawrence Summers como um dos conselheiros mais influentes de Obama e Timothy Geithner então à frente do Banco da Reserva Federal de Nova Iorque e posteriormente secretário de Estado do Tesouro, para todos os efeitos equivalente a ministro das Finanças.
De todas estas personalidades a mais complexa e controversa é a de Lawrence Summers. É-o porque além do seu enorme prestígio académico como professor em Harvard, Summers acumulou uma série de empregos no setor financeiro privado, explicando em meu entender o peso que as suas palavras e os seus escritos produzem. Bernanke tem origens académicas inequívocas, estudioso em Princeton da política monetária em crises financeiras, pelo que a chamada ao FED projetou-o da investigação para a ação. Geithner é dos três o de projeção mais apagada, até há bem pouco tempo um homem do serviço público em diferentes e muito diversificadas funções até ao Tesouro americano.
Apesar disso, Geithner é entre as três personalidades a que tem gerado adversários e detratores mais acérrimos. A razão principal prende-se com o facto dos analistas o associarem decisivamente ao chamado Troubled Asset Relief Programme (TARP), mecanismo através do qual foram injetados 700 mil milhões de dólares para resgate de Wall Street, no quadro do que poderíamos designar de “demasiado grande para falir”. Geithner depois de abandonar a seu pedido o Tesouro americano esteve praticamente ausente de qualquer tomada de posição ou expressão de opinião. Só agora se anuncia para esta semana um livro seu, Stress Test, e o jornalista Andrew Rose Sorkin dedica-lhe, no New York Times Magazine, uma peça jornalística /entrevista publicada na passada quinta-feira que, na antecâmara do Stress Test, constitui um documento de rara importância.
Mas afinal onde está a relevância do tema? O TARP constitui uma das matérias de maior controvérsia na abordagem à crise financeira de 2008. As razões que explicam a permanência da controvérsia têm que ver com a impossibilidade de demonstração da contrafactualidade. Por outras palavras, os defensores da aplicação daquele mecanismo (entre os quais o próprio Geithner) invocam os efeitos devastadores que a falência de Wall Street teria determinado (na sequência da não intervenção no Lehman Brothers) caso o TARP não tivesse sido decidido. Por sua vez, os detratores de tal medida nunca conseguirão demonstrar a não existência desses efeitos devastadores. Por isso o debate permanece.
A peça de Sorkin é muito curiosa porque parte do relato de uma exposição feita por Geithner ao curso de economia de Summers em Harvard, convidado por este com o anúncio aos seus alunos de que talvez não compreendam a importância do “agente” Geithner no turbilhão da crise.
Geithner deve ter iniciado com o Stress Test uma tentativa de justificação da decisão tomada, invocando entre outras coisas que o dinheiro injetado no resgate de Wall Street terá sido já praticamente reembolsado com juros correspondentes. Com as devidas proporções, o que se passou com o reembolso do TARP é coisa de que Teixeira dos Santos não poderá orgulhar-se pois a intervenção no BPN é coisa que se abateu sobre os contribuintes portugueses e não terá reembolso possível.
A matéria que me parece mais interessante na peça de Sorkin é a absoluta relutância de Geithner em acusar as personalidades do sistema bancário: “As funções que exerci expuseram-me a banqueiros talentosos de grande experiência e um erro de avaliação ter-me-á induzido a considerar que o sistema financeiro americano era mais capaz e ético do que na realidade mostru ser”. Há quem o associe a essa elite, mas em concreto Geithner nunca exerceu até à sua presidência do FED de Nova Iorque qualquer função na banca.
Por tudo isto, a leitura do Stress Test será crucial para compreender se Geithner foi seduzido pela atração da banca ou se pelo contrário apresenta argumentos consistentes para justificar a injeção de tal soma em Wall Street.

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