terça-feira, 20 de maio de 2014

EUROPA



Bem pode António Lobo Xavier pregar que as posições de José Pacheco Pereira quanto à Europa são mais próximas da esquerda fora do arco da governação que isso não me retira o discernimento de as considerar bem lúcidas e indo ao coração dos problemas.
A sua crónica do passado sábado no Público é um pequeno ensaio histórico demolidor colocando a nu as razões que desvirtuaram o processo de construção europeia, tal como ele foi inicialmente concebido. Um conjunto de razões que vão desde a unificação alemã após a queda do muro de Berlim misturado com o aprofundamento da globalização, o papel da Polónia e de João Paulo II no alargamento, a progressiva ascensão da burocracia que considera a democracia um exercício inútil e fonte de irracionalidade económica, a descredibilização democrática com a ascensão dos diretórios.
Mas onde a crónica de JPP é contundente é sobre o toque destruidor da política externa europeia, mostrando que onde a UE intervém (Líbia, Sérvia, Ucrânia) transforma as expectativas de salvação ocidental na mais completa desregulação dessas sociedades, semeando destruição e fratura: “Devia haver um tratado que impedisse a União Europeia, mais os seus governantes e a Baronesa, de jogar aos grandes do mundo, quando não se tem força nem se pensa nas consequências”.
Para um reformista interessado na construção europeia como plataforma de interação permanente com a validação democrática dos povos associados, seja por referendo, seja pelo pronunciamento livre dos parlamentos nacionais, esta visão contundente de JPP é depressiva mas estritamente necessária para compreender o que está agora apenas a sair do adro. O que sabemos é que as derivas assinaladas por JPP são responsáveis pelo avanço inexorável dos interesses nacionais (o post do meu colega de blogue explica eloquentemente o avanço da Frente Nacional em matéria de europeias). Explica também o non-sense (face à selfie de Costa e Seguro na baixa lisboeta com Martin Schultz) da afirmação de Seixas da Costa no seu blogue: “Juncker não é o candidato socialista. Mas, aqui entre nós - e só espero que os socialistas não me oiçam! - é um excelente candidato, um homem sério e que já provou ser nosso amigo, um europeísta que, por exemplo, sabe bater o pé à Alemanha”.

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