quinta-feira, 1 de maio de 2014

O DEO EXERCÍCIO DE GESTÃO ELEITORAL



Já por repetidas vezes chamei a atenção para a capacidade de gestão política da evolução macroeconómica que o governo tem revelado. Isso não significa consistência de processos, mas tão só essa capacidade de jogar com uma comunicação social com reduzido poder e vontade de escrutínio da política económica praticada, com uma opinião pública incipiente e sobretudo com uma Comissão Europeia interessada em branquear um dos períodos mais negros e menos solidários da construção europeia.
O Documento de Estratégia Orçamental ontem apresentado é um deliberado exercício de gestão eleitoral e exigirá da oposição uma crítica contundente de desmontagem de toda essa ginástica claramente orientada para o tempo de campanha eleitoral vivida já há longo tempo.
Não consigo imaginar que discussão terá o documento merecido dos elementos da TROIKA, mas não custa crer que a 12ª avaliação seja já um encore solícito também ele inspirado pela campanha de branqueamento das consequências de todo o processo de resgate. Mas também admito que sobretudo o representante do FMI possa ter sido um osso duro de roer.
Com a apresentação do DEO vem a confirmação de que a atual maioria é incapaz de qualquer reforma estrutural do Estado e nem sequer a sua anunciada proposta de sustentabilidade estrutural do sistema de segurança social viu a luz do dia. O texto usa e abusa do termo sustentabilidade, mas essa utilização é ela própria um instrumento do exercício de gestão eleitoral.
O exercício de gestão eleitoral é calculado ao milímetro, tirando de um lado e aliviando do outro, tirando da cartola o coelho da receita adicional do IVA consignada ao sistema de pensões e invadindo o terreno difícil da taxa social única para os trabalhadores, por duas décimas, mas de qualquer modo afirmando a sua marca desequilibradora em desfavor do mundo do trabalho. Para quem pintou a situação mais negra sobre a sustentabilidade do sistema de pensões, abdicar de uma abordagem efetivamente estrutural ao problema e optar pela transformação de cortes temporários em definitivos mas de menor expressão e juntar-lhe 0,25 pontos percentuais de IVA e 0,2 de TSU para os trabalhadores constitui um exercício de puro equilíbrio eleitoral.
Mas o calculismo pode sair caro à maioria. É que o exercício é hábil mas tão óbvio e contraditório com toda a preparação do abismo que pode não colar. Não é seguro que a perceção do pequeno alívio compense a dimensão dos custos acumulados. E depois parece que o desemprego nem existe. Não há gestão eleitoral que o possa ocultar.

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