Entre os economistas e outros atores económicos
que não atribuem aos riscos de deflação a relevância devida, são identificáveis
dois grupos de posições: os que pensam que a recuperação do crescimento económico
deverá afastar esse risco e os que, pelo contrário, continuam agarrados à ideia
de que a intervenção do Banco Central conduzirá a riscos inflacionários. Com o
primeiro grupo, a questão a debater é a da possibilidade dessa recuperação do
crescimento não acontecer precisamente pelos fatores que tornam o risco de
deflação concretizável. Com o segundo grupo não há nada praticamente a fazer
pois trata-se de puro negacionismo.
Krugman dedica um curto post a este negacionismo
comparando a evolução da base monetária com a evolução dos preços na economia
americano desde o início da grande recessão de 2008.
O agregado da base monetária é constituído pela
massa de notas e moedas em circulação adicionada dos depósitos dos bancos
comerciais no banco central. Tem sido um agregado bastante utilizado, pois é o
agregado que melhor responde à política do chamado quantitative easing. Esta operação consiste basicamente na compra
por parte do Banco Central de títulos aos bancos comerciais, aumentando as
reservas destes últimos e aumentando assim a chamada base monetária. Nem sempre
esta operação se traduz em aumentos de oferta de moeda à economia e isso
acontece quando os bancos preferen manter reservas excessivas a emprestar à
economia, abrindo contas de depósito a favor dos beneficiários.
A título de curiosidade reproduzo abaixo o
comportamento da base monetária e do agregado de oferta de moeda M2 na economia
americana, simplesmente para mostrar que se trata de agregados que podem ter
comportamentos não em inteira conformidade.
Mas o que é importante notar é que nos últimos
anos se têm alterado profundamente as relações entre a oferta de moeda e outras
grandezas macroeconómicas como o PIB e os preços. O Banco da Reserva Federal americano
na sua página e na sua informação de divulgação escreve: “Nas décadas mais recentes, contudo, a relação
entre as diferentes medidas da oferta de moeda e variáveis como o crescimento
do PIB e a inflação nos EUA foi bastante instável. Em resultado disso, a importância
da oferta de moeda como guia da condução da política monetária nos EUA diminuiu
com o tempo. O Federal Open Market Committee, ainda monitoriza regularmente os
dados de oferta de moeda para a condução da política monetária,
mas esses dados são apenas uma parte de um vasto conjunto de dados económicos e
financeiros.”
Ora, os acérrimos defensores da fobia inflacionária
continuam a pensar como se a relação entre oferta de moeda e os preços
permanecesse como nos velhos tempos. Também não deixa de ser uma forma de negar
a realidade.
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