Não quero ser desrespeitoso para com os
candidatos que trilham empenhadamente a rua, as praças, que animam sessões, que
se multiplicam em entrevistas, que almoçam, jantam e piquenicam com militantes,
simpatizantes e população anónima.
Mas a sensação que um observador exterior retira dos
ecos da campanha é a de que todo o modelo está esgotado, que o declínio da
participação eleitoral é inclinado, com declives de risco e sujeitos a
resultados inesperados. Que esse ambiente de declínio é favorável ao
aparecimento do populismo mais arrebatado, não necessariamente à moda do Grillo
italiano (as sondagens em Itália estarrecem qualquer um devoto da democracia) e
que está criado um perigoso círculo vicioso, através do qual a baixa participação
eleitoral estimula e reforça o modelo dos diretórios e do peso da
tecnoestrutura não politicamente sufragada que grassa pelas instituições
europeias.
E no meio deste declínio anunciado, nem sequer
fortemente estimulado pela vontade de punição do governo e da sua sobre-Troika
preocupação em endireitar os portugueses (será assim? Será que não teremos uma
surpresa nesta matéria?), algumas regularidades emergem.
A maioria governativa, representada pela Aliança
Portugal (a usura dos nomes é assustadora), incorre no prodígio de querer
castigar uma governação (a de Sócrates) que já não está no ativo para passar
incólume. Paulo Rangel parece aquele menino bem comportado que só tirava cincos
e que, perante a oportunidade de uma desbunda, se transfigura (ou será que esta
é a sua verdadeira identidade e que tem andado reprimido na sua outra condição?).
O homem está obcecado com o despesismo socrático (que existiu mas não nos
termos mistificadores do discurso de Rangel), bebe pela garrafa com Melo para
parecer popular (uma forma balofa de populismo) e deixou-se apanhar pelo vírus
do desvario, entrando por metáforas perigosas que incendiaram o anti-fascista
(sempre) Alegre, numa querela das antigas, que pode ser estimulante do ponto de
vista formal mas que não acrescenta nada ao essencial. Marcelo veio a terreiro,
matreiramente como manda o seu ADN e procura convencer o eleitor de que o
principal capital da Aliança Portugal é o seu candidato europeu e está tudo
dito quanto ao que move parte desta campanha. Marcelo e Seixas da Costa parecem
estar de acordo, ao menos Juncker para nos apoiar, mas a senhora Merkel parece
estar a negociar a Presidência da CE mesmo sem conhecer os resultados de 25 de
maio.
O PS parece ganhar algum fôlego, mas a tentativa
de Seguro em mostrar que a questão nacional e a europeia estão ligadas esbarra
nas sondagens atuais que continuam a dar a dianteira previsível ao grupo
popular, o que desencoraja qualquer um e que diz bem do estado das coisas nesta
Europa.
À esquerda e com tanta atomização, parece estar
tudo suspenso da abstenção, o que não é encorajante. Excetuando surpresas que
podem acontecer, sobretudo impulsionadas pelo eleitorado mais jovem, cujo comportamento
eleitoral não está suficientemente estudado, teremos provavelmente a metáfora
de quem muda menos será recompensado na sua qualidade de voto credível de
protesto. Ou seja, o PC, embora rejuvenescendo de rostos, muda pouco e a
sociedade portuguesa parece atavicamente premiar essa consistência.
Oxalá me engane mas poderemos ter uma penalização
do governo com algum significado mas que do ponto de vista europeu não tem
contrapartida significativa no espectro político e que no plano nacional acaba
por não ter uma tradução sólida em termos de solução governativa.
É dos tais casos em que bem gostaria de ser
surpreendido pela democracia, não no sentido populista do termo.
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