quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

NÓS E OS GRÁFICOS DE KRUGMAN: A DÍVIDA PÚBLICA


Numa recente conferência de P. Krugman em Paris, o economista americano aproveitou a oportunidade para investir de novo contra o mito da austeridade expansionista e contra o risco desnecessário de um prolongamento da grande recessão económica europeia induzido por uma má compreensão desta última. Na sua conferência, alguns gráficos já previamente discutidos no seu blogue no New York Times foram utilizados para marcar a sua argumentação.
Hoje, vamos centrar a atenção num desses gráficos e situar Portugal nessa argumentação, mostrando que a situação portuguesa apresenta particularidades.
O gráfico acima descreve o peso da dívida pública no PIB do conjunto dos países mais atingidos pela crise das dívidas soberanas (Espanha, Grécia, Irlanda, Itália e Portugal), ponderando esse indicador pelo PIB dos países imediatamente antes da crise financeira nos Estados Unidos da América. O título dado pelo Krugman ao gráfico, “O mito da indisciplina fiscal”, pretende ilustrar que o peso da dívida pública no PIB estava em queda no conjunto destes países até à eclosão da crise financeira, aumentando a partir daí. O que Krugman pretende demonstrar é que o problema da dívida não precipita a crise, sendo, pelo contrário, uma das suas consequências. Tomando o conjunto dos “indisciplinados” como uma unidade, o argumento de Krugman é sedutor e a evolução do gráfico é bastante explícita.
Porém, o que é válido para o conjunto, pode não o ser para cada uma das economias em particular.


Recorrendo à Historical Public Debt Database do FMI, elaborei um gráfico comparativo para Portugal, que consta do gráfico acima. Como é possível verificar, a evolução da curva que mede o peso da dívida pública no PIB não é totalmente similar à do conjunto. O peso é ascendente e não descendente até 2007, embora a partir dessa data seja notório o ritmo de maior crescimento da dimensão relativa da dívida pública. O que mostra a particularidade da situação portuguesa. Como já procurei explicitar em alguns posts deste blogue, a crise portuguesa é uma imbricação de fatores externos (a crise internacional) e de fatores internos (essencialmente a afetação de recursos públicos que potenciou o incremento da dívida pública). Mas a abordagem de Krugman não é por este facto desvalorizada: é nítido no gráfico o aumento de ritmo de crescimento do peso no PIB da dívida pública portuguesa a partir do eclodir da crise financeira internacional.

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