À medida que os diferentes números sobre a atividade económica
do último trimestre de 2011 vão sendo publicados nos diferentes países da zona
euro, incluindo os de Portugal e Grécia, os países que estão na berlinda nos últimos
dias, cada vez é mais claro o espectro recessivo para o conjunto da zona e em
particular para os países mais fortemente atingidos pelas dívidas soberanas. O
afundamento grego é demasiado evidente (7% em relação ao trimestre homólogo de
2010) para ser ignorado. A descida correspondente de 2,7% em Portugal não é em
si fator de otimismo, pois o elemento grego de comparação é demasiado
distorcido e penoso para nos servir de comparação. Por outro lado, o produto
industrial da zona euro desceu em Dezembro relativamente ao ano anterior e tudo
leva a crer que o produto interno da zona acuse uma descida no mesmo trimestre,
configurando o que tecnicamente se designa de recessão. Na Alemanha há sinais
contraditórios. Por um lado, os indicadores de confiança económica parecem
finalmente inverter a sua tendência decrescente. Mas, por outro lado, a OCDE regista
um clima de incerteza mais alargado diretamente associado à instabilidade na
zona euro que teima em persistir. É cada vez mais evidente que associar a
confiança estabilizadora dos mercados à disciplina fiscal diverge do modo como
estes estão a reagir.
Em suma, tudo indica que a imbricação de todos os
problemas, as dívidas soberanas, a instabilidade da zona euro, as dúvidas sobre
o default grego, o problema do crédito no sistema bancário apesar da intervenção
do BCE em Dezembro, as indefinições sobre os mecanismos de estabilidade
financeira e sobre o seu reforço, põe em evidência como foi precipitada a ideia
europeia de que o pior tinha passado.
E o que é mais preocupante é a sensação que nos fica de
que as últimas imposições à economia grega e o perturbado processo de discussão
dos cortes de dívida a assumir pelo setor privado sugerem um cenário de desistência
e a queda do tabu do default. Se o acordo não fosse aprovado no Parlamento
grego a sentença estava dada. Aprovado que foi, multiplicam-se as dúvidas sobre
a capacidade de o aplicar, o que é simplesmente cinismo engenhoso. O Financial
Times referia hoje que até à aprovação do segundo resgate a Grécia deveria
apresentar prova dos cortes adicionalmente impostos, das condições de redução
dos custos em trabalho e do apoio pós eleitoral ao acordo aprovado no
Parlamento. Cheira a ditames de rendição incondicional. Multiplicam-se
adicionalmente os testemunhos de operadores de mercado e de responsáveis por grandes
empresas europeias, segundo os quais não é apenas a queda do tabu do default que
emerge cada vez mais nítida. É também uma palavra nova que emerge, nua e crua,
o fardo grego, inaceitável para alguns.
Entretanto, a animosidade das opiniões públicas europeias
relativamente às posições alemãs está ao rubro, pelo menos se a deduzirmos a
partir da natureza explícita com que a arrogância alemã é criticada, sobretudo
por estar associada à criação dos mecanismos do euro e não dar sinais de
conseguir uma solução sustentável para a superação da instabilidade. Já aqui
usei a metáfora de que o euro parece uma máquina não preparada e não testada para
situações de stress. No blogue de Gideon Rachman no Financial Times surge uma
outra mais terrível sugerida por um alto funcionário alemão: “inventámos uma máquina
infernal que não conseguimos desligar”. Eles lá sabem porquê.
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