terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

EVIDÊNCIAS, DESENCONTROS E METÁFORAS SOBRE O EURO



À medida que os diferentes números sobre a atividade económica do último trimestre de 2011 vão sendo publicados nos diferentes países da zona euro, incluindo os de Portugal e Grécia, os países que estão na berlinda nos últimos dias, cada vez é mais claro o espectro recessivo para o conjunto da zona e em particular para os países mais fortemente atingidos pelas dívidas soberanas. O afundamento grego é demasiado evidente (7% em relação ao trimestre homólogo de 2010) para ser ignorado. A descida correspondente de 2,7% em Portugal não é em si fator de otimismo, pois o elemento grego de comparação é demasiado distorcido e penoso para nos servir de comparação. Por outro lado, o produto industrial da zona euro desceu em Dezembro relativamente ao ano anterior e tudo leva a crer que o produto interno da zona acuse uma descida no mesmo trimestre, configurando o que tecnicamente se designa de recessão. Na Alemanha há sinais contraditórios. Por um lado, os indicadores de confiança económica parecem finalmente inverter a sua tendência decrescente. Mas, por outro lado, a OCDE regista um clima de incerteza mais alargado diretamente associado à instabilidade na zona euro que teima em persistir. É cada vez mais evidente que associar a confiança estabilizadora dos mercados à disciplina fiscal diverge do modo como estes estão a reagir.
Em suma, tudo indica que a imbricação de todos os problemas, as dívidas soberanas, a instabilidade da zona euro, as dúvidas sobre o default grego, o problema do crédito no sistema bancário apesar da intervenção do BCE em Dezembro, as indefinições sobre os mecanismos de estabilidade financeira e sobre o seu reforço, põe em evidência como foi precipitada a ideia europeia de que o pior tinha passado.
E o que é mais preocupante é a sensação que nos fica de que as últimas imposições à economia grega e o perturbado processo de discussão dos cortes de dívida a assumir pelo setor privado sugerem um cenário de desistência e a queda do tabu do default. Se o acordo não fosse aprovado no Parlamento grego a sentença estava dada. Aprovado que foi, multiplicam-se as dúvidas sobre a capacidade de o aplicar, o que é simplesmente cinismo engenhoso. O Financial Times referia hoje que até à aprovação do segundo resgate a Grécia deveria apresentar prova dos cortes adicionalmente impostos, das condições de redução dos custos em trabalho e do apoio pós eleitoral ao acordo aprovado no Parlamento. Cheira a ditames de rendição incondicional. Multiplicam-se adicionalmente os testemunhos de operadores de mercado e de responsáveis por grandes empresas europeias, segundo os quais não é apenas a queda do tabu do default que emerge cada vez mais nítida. É também uma palavra nova que emerge, nua e crua, o fardo grego, inaceitável para alguns.
Entretanto, a animosidade das opiniões públicas europeias relativamente às posições alemãs está ao rubro, pelo menos se a deduzirmos a partir da natureza explícita com que a arrogância alemã é criticada, sobretudo por estar associada à criação dos mecanismos do euro e não dar sinais de conseguir uma solução sustentável para a superação da instabilidade. Já aqui usei a metáfora de que o euro parece uma máquina não preparada e não testada para situações de stress. No blogue de Gideon Rachman no Financial Times surge uma outra mais terrível sugerida por um alto funcionário alemão: “inventámos uma máquina infernal que não conseguimos desligar”. Eles lá sabem porquê.

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