quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

NÓS E OS GRÁFICOS DE KRUGMAN: A INFLAÇÃO (um pouco técnico)

O gráfico acima descreve o comportamento ao longo da década de 2000 dos índices de preços implícitos no PIB do conjunto dos países "indisciplinados" (Espanha, Grécia, Irlanda, Itália e Portugal) e da Alemanha. No quadro da zona euro, em que cada um dos países não tem autonomia monetária, o ritmo mais elevado de crescimento do preço do cabaz do PIB deste conjunto de países relativamente ao da Alemanha gera um agravamento da competitividade daqueles face a esta última. Em termos técnicos, isso significa que a taxa de câmbio real daquele conjunto de países tem um comportamento desfavorável face à Alemanha. É essa uma das razões que explica que a balança de transações correntes daquele conjunto de países tenha um comportamento (desfavorável) praticamente simétrico do comportamento da balança corrente alemã.
Com base em informação do Banco de Portugal, comparei a evolução (valores trimestrais) do índice de preços implícito no PIB de Portugal e Espanha relativamente ao da Alemanha para o mesmo período do gráfico de Krugman.




Neste caso, o comportamento de Portugal alinha com o do gráfico de Krugman, embora o fenómeno seja mais acentuado em Espanha do que em Portugal. Poderemos noutra oportunidade explicar essa divergência.
O que interessa por agora discutir é a estratégia que está em curso de ser operada designadamente com os programas de resgate financeiro: ela pretende inverter este comportamento desfavorável face à Alemanha através de uma política de austeridade intensa. Isso significa que, para um padrão moderado de evolução dos preços médios na Europa (a tão reivindicada estabilidade nominal por parte dos alemães e do BCE), os países “indisciplinados” terão que sofrer um aperto “colossal” para nessas condições inverter o processo descrito nos dois quadros. Uma situação mais moderada poderia ser encontrada se os “disciplinados” evoluíssem com uma ligeiramente menor moderação dos preços, isto é, potenciando nos "indisciplinados" uma menor contenção. Mas isso é matéria que BCE e alemães têm contrariado até à exaustão. Voltaremos ao assunto.




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