segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

SARAVAH!

No curto espaço de dois anos, o Porto perdeu quatro vultos da pintura e – coisa cada vez mais rara! – quatro homens e cidadãos extraordinários: Jaime Isidoro, Ângelo de Sousa, Júlio Resende e, agora, Fernando Lanhas. Não pretendo, ao referir-me aos quatro, arriscar qualquer acusação de uma mistura de “alhos com bugalhos”, pois sei bem que foram atores muito diversos no legado e no contributo artístico “objetivo”. A singela homenagem, a que aqui não consegui impedir-me, respeita tão-só à plenitude vivencial que cada um logrou alcançar, afinal a grande marca distintiva entre mortais.

Conheci menos bem Fernando Lanhas, mas tive a sorte de uma oportunidade acidental ao jantar a seu lado aquando da inauguração da exposição de Lourdes Castro em Serralves (Março de 2010) – uma pessoa já debilitada por algumas manifestações físicas próprias dos avanços da idade, mas uma personalidade cuja arrumação mental ia ressaltando nas poucas e finas palavras com que participava nas conversas da mesa.

Melhor do que um comentador sem especiais competências na matéria, disse João Fernandes (director do Museu de Arte Conteporânea de Serralves)
sobre Lanhas: “fez aquilo que não tinha sido feito numa arte portuguesa que resgatou para a contemporaneidade, primeiro através da descoberta da abstração geométrica, que ele praticou primeiro que ninguém em Portugal sem saber que outros o faziam fora de Portugal”. Acrescentando ainda tratar-se de “um dos nomes mais universais da arte portuguesa”, que “cruzou os seus saberes quase renascentistas com a sua condição de homem contemporâneo” – afinal, o “arquiteto-pintor, astrónomo e arqueólogo” a que se refere a página “Antigos Estudantes Ilustres da Universidade do Porto”, casa onde estudou arquitetura na Escola de Belas-Artes (1942-1947).

Estou certo de que este embaixador da pintura abstrata portuguesa também preferiria que este momento triste fosse assinalado com a simbólica chamada de atenção para uma das suas obras maiores, “02-44 ou O Violino”, exposta pela primeira vez em 1945 e integrante da coleção do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian. Saravah!

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