sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

PÚBLICO E PRIVADO REMIX

Anteontem foi a leitura da sentença do caso Rui Pedro. Ontem foi o acórdão do recurso do processo Casa Pia. Ambos os processos contam, por curiosa coincidência, com o envolvimento direto do advogado Ricardo Sá Fernandes (acima caricaturado em http://portugalcaramba.blogspot.com). Quanto ao primeiro, mais do que salientar a primária ira popular, penso em Filomena Teixeira e Manuel Mendonça catorze anos depois! Quanto ao segundo, é um impulso que me leva à gaveta em busca de algo que guardara por memória do sobressalto que me provocara – sobretudo na medida em que ao horror das violentações, que existiram, se somou o outro horror de uma justiça que não funciona de modo confiável para o cidadão (o cartoon é de Gonçalo Viana na "Visão", http://aeiou.visao.pt).

Cabeçalho do “Expresso” de 26 de Março de 2011: “Testemunha da Casa Pia recua e iliba condenados”. Em evidência, seguidamente, podia ler-se: “Jovem vítima de abusos vem dizer que todos mentiram em tribunal e só mantém acusações contra Carlos Silvino”. O corpo inicial da notícia referia: “Ilídio Marques tem uma nova versão sobre os acontecimentos que estão na origem do processo Casa Pia. Segundo conta em entrevista, 'uma cambada de putos conseguiu dar a volta à Polícia Judiciária', forjando acusações contra personalidades conhecidas. Diz ter sido abusado por adultos na célebre casa de Elvas, mas à exceção de Carlos Silvino os pedófilos eram desconhecidos.”

No interior, a entrevista. Destaco:
· P: “Por que motivo os acusou?” / R: “Um bocado da culpa foi da comunicação social, que ajudou a sustentar e a manter uma situação que não existia. Por outro lado, muitas pessoas já tinham referido os nomes deles. Numa casa grande, com vários alunos, comenta-se – este fala daquele, aquele fala do outro, porque aquele desabafou com uma certa pessoa – e chega-se a um ponto em que tudo se sabe.”
· P: “Mas os juízes acreditaram.” / R: “Tanto os juízes como os procuradores e as pessoas que estiveram envolvidas e analisaram o processo, com o devido respeito, deviam ter tido muito mais atenção nas coisas, nos pormenores, nas contradições, nas provas…"
· P: Referiu-se em concreto a Carlos Cruz.” / R:”Referi-me ao Carlos Cruz como me podia ter referido a qualquer outra das pessoas do processo, porque é figura pública. Foi a pessoa que deu mais força ao processo ao nível de televisões e opinião pública.”
· P: “Quer dizer que se tivesse acusado as pessoas que abusaram de si, este processo não teria tido este impacto?” / R: “Não tinha. Se for o Zé Povinho ou o trolha é mais um. Se abrir um jornal, é o primo, é o padrasto, o avô e não passa daí. Mas se for uma coisa grande, com figuras públicas, tem uma dimensão muito maior. Quando acusámos não foi com maldade, mas sim para chamar a atenção. Mas as coisas chegaram a uma proporção que, quando quisemos dar a volta, não conseguimos.”
· P: “Quando foram à PJ e tiveram de reconhecer os alegados abusadores, já sabiam quem iam acusar?” / R: “Os nomes já tinham passado na televisão. Isso foi fácil.”
· P: “Foi por causa do impacto público que surgiram nomes como o de Paulo Pedroso e Herman José?” / R. “…e outros mais. Como toda a gente que ler o processo vai ver, não foram incluídos mais porque quem se referiu a eles baralhou-se e não foi convincente. Com os outros foi muito mais fácil ser convincente.”
· P: “E as outras vítimas estiveram com estes arguidos?” / R: “Não. Não acredito que tenham estado. Se isso tivesse acontecido acabaria sempre por se saber na Casa Pia. Entrámos todos no mundo do vamos lá a ver o que isto dá ou não dá. Somos putos, não nos acontece nada…”

Eis o público e o privado na sua mais profunda essência…

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