quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

VALENTE CORAGEM

“Porto: Presidente da Assembleia Municipal contra fusão de Leixões numa única entidade”, intitulava uma notícia do JN de ontem a partir de um “take” da “Lusa” (http://www.jn.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=2303098). Dizendo ainda o seguinte: “O presidente da Assembleia Municipal do Porto interveio segunda-feira à noite, enquanto deputado eleito pelo PSD, no debate sobre o futuro do porto de Leixões, dizendo que ‘a solução não é estar fundir coisas que não funcionam’. Valente de Oliveira - que agiu desse modo pela primeira vez desde que exerce aquelas funções - abandonou o seu posto, sentou-se junto dos eleitos do seu partido e esperou pela sua vez para, na tribuna, emitir a sua opinião sobre o tema. O deputado pronunciou-se contra a propalada intenção governamental de fusão dos portos nacionais numa única entidade - Portos de Portugal -, sustentando que ‘é muito negativa qualquer tentativa de fusão da gestão portuária e da atividade empresarial’”.

Quero aqui saudar a “valentia” do Presidente da Assembleia Municipal do Porto. Terá olhado em volta, falado com alguns notáveis, medido a correlação de forças; sobretudo, terá visto e ouvido de que lado estavam, designadamente, o seu Presidente da Câmara, o Presidente da Associação Empresarial de Portugal e o Presidente da Associação Comercial do Porto. E… zás! Saltou da sua cadeira, aguardou democraticamente no seu humilde lugar de eleito pelos portuenses e falou!

Assim o tivesse feito em momentos decisivos para o País, como foi aquele em que o governo do PSD/Cavaco Silva de que fazia parte como ministro do Planeamento anunciou, em 1994, que não iria prosseguir com a regionalização, após um longo processo que culminou com a aprovação da chamada “lei-quadro das regiões administrativas” (Lei n.º 56/91). Como já antes teria sido de grande utilidade que, nesse mesmo quadro governativo, tivesse prestado o serviço de ser firme no conflito desencadeado pela escolha da localização da Ponte Vasco da Gama, sustentando as suas razões (imagino que não apenas técnicas…) para defender uma opção pelo corredor central Chelas-Barreiro contra a de Sacavém-Montijo pelo então ministro das Obras Públicas Ferreira do Amaral. Como teria sido também imensamente útil que, por ocasião do referendo de 8 Novembro de 1998, tivesse prestado o serviço de vir apresentar os seus verdadeiros argumentos para trocar princípios de uma vida por uma pseudo-leninista “análise concreta da situação concreta”, como viria a fazer, mais de dez anos depois, numa entrevista ao “Grande Porto” em que explicou que António Guterres “não tinha grande determinação em relação a este processo” e que Marcelo Rebelo de Sousa “não é manifestamente um regionalista”. Como seria igualmente útil, ainda, mais não fora em termos estritamente democráticos, que adotasse agora – no exercício das suas atuais funções de Presidente de uma Assembleia Municipal, em que é ademais chamado a exercer o voto de qualidade – uma atitude isenta e pedagógica, não pactuando com disputas desviantes, pequenas manobras ou graçolas infantis; ou que não tivesse ido tolerando, com o seu silêncio cúmplice, desconsiderações feitas a quem parecia merecer-lhe justificada respeitabilidade.


No mesmo JN de ontem, o meu amigo Alberto Castro (“A lógica é…”) refere-se à necessidade de um líder que relance a dinâmica do “novo Norte” e aponta para “alguém, como a seu tempo foi Valente de Oliveira, a quem se reconheça que não o faz por vontade de poder ou protagonismo”. Concordo. E não creio cair em contradição em relação ao atrás apontado. Porque, se devemos largamente à personalidade aqui em causa (enquanto gestor da Comissão de Planeamento Regional do Norte de 1973 a 1978 e presidente da Comissão de Coordenação da Região Norte de 1979 a 1985, e sem esquecer o contributo algo paralelo de Miguel Cadilhe no Gabinete de Estudos Económicos do BPA) a aquisição de conhecimento aplicado e a qualificação de recursos humanos que estiveram na base de uma ímpar afirmação da Região em termos de racionalidade e massa crítica, tal só confere maior exigência ao modo como para a pessoa temos de olhar e maior responsabilidade à exemplaridade dos sinais que os seus comportamentos necessariamente emitem. Como diz o poema de Alexandre O'Neill (Velha Fábula em Bossa Nova”): Assim devera eu ser / se não fora / não querer…

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