Este fim de semana, Anabela Mota Ribeiro antecipou a habitual rubrica “Olhos nos Olhos” (às Segundas-feiras na TVI 24) em duas boas entrevistas individuais à dupla do dito programa: Henrique Medina Carreira (“Jornal de Negócios” de Sexta-feira) e Judite de Sousa (“Pública” de hoje).
O primeiro, com chamada de primeira página (“Os patrões estão tão falidos como os empregados”) e dois títulos internos sugestivos (“Um país falido não tem soberania nenhuma” e “Estamos outra vez com um governo dominado pela ‘partidarite’”), reafirmou muito do que
tem vindo a ser a matriz da sua intervenção pública dos últimos anos. Acerca da qual quererei vir proximamente a este espaço pronunciar-me, equacionando nomeadamente o que penso sobre o muito de essencial que Medina Carreira tem suscitado (mesmo quando genericamente acusado de “filósofo do tremendismo”) e sobre as ligeirezas/imprecisões/excessos/erros em que de passagem incorre – ilustrando alguns temas: “O grande problema é o Ocidente estar a perder as indústrias e ter dependência energética”, “Isto começou com a decadência económica”, “O dinheiro não foi. O dinheiro deixou de ser produzido.”, “Desde o primeiro governo de Cavaco Silva devíamos ter encetado uma nova fase e criado condições de competitividade”, “A prosperidade terminou com aquela feijoada do Guterres na ponte Vasco da Gama”, “Isto é responsabilidade do poder político e sobretudo de José Sócrates. Qualquer pessoa que fizesse duas continhas percebia que isto estava a caminho do estoiro”, “O que a troika vem fazer, em linguagem muito chã, é pôr-nos a viver com o que temos”, “O que a Merkel quer é uma evidência”, “[A Grécia] é um caso perdido”, “Com dez réis de mel coado os chineses instalam-se aqui a olhar” ou “O português, coletivamente, falha”.
Deixo entretanto, pelo seu maior imediatismo ou adequação conjuntural, algumas considerações relativas à política nacional: “o nosso sistema eleitoral, atribuindo o monopólio da escolha dos candidatos a deputados [aos partidos], marca profundamente a vida política portuguesa”; “Não lhes chamo [quem está no Parlamento] subservientes. Dependentes. Porque querem ser reeleitos. É uma carreira.”; “Impôs-se o político ao chefe de Estado. O chefe de Estado tinha o estrito dever de alertar o país, e, se fosse caso disso, dissolver a assembleia e escolher um outro governo para governar.”; “Pensei que [Passos Coelho] fosse capaz de atenuar isso – não é de evitar isso. Não atenuou coisa nenhuma.”; “Acho que os governos devem poder ser julgados criminalmente”; “Só vejo uma maneira de libertar o sistema desta tutela dos partidos: um presidencialismo, à americana.” Matérias para reflexão, pois…
Já as palavras de Judite de Sousa (“O ser humano tem muitas esquinas – esta frase é a minha cara”), entre outros motivos de interesse, incluem um tópico da maior relevância na perspetiva de um cabal esclarecimento do histórico pedido português de resgate e do curto período de Março/Abril de 2010 que o antecedeu (aludi a esta questão no meu post "Crime, disseram" de 15 de Outubro de 2011). Enquadra-o ela com a afirmação seguinte: “A informação da TVI mudou muito; o elemento que relevo, fundamental na perceção objetiva dessa mudança, foi o facto de o pedido de ajuda financeira que Portugal foi obrigado a fazer ter passado pela informação da TVI.” Referindo então, a merecer registo para memória futura: “Muitas pessoas não perceberam por que é que andava a entrevistar banqueiros todos os dias. A verdade é que as entrevistas foram feitas numa segunda, numa terça, numa quarta e numa quinta; 48 horas depois, o primeiro-ministro estava a pedir ajuda financeira. No dia 31 de Março, entrevistei, no Terreiro do Paço, o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, e pus-lhe a questão do pedido de resgate. Respondeu que não. No dia 4 de Abril, a primeira entrevista é com Carlos Santos Ferreira, que diz, de uma forma explícita, que é preciso pedir ajuda externa. No dia seguinte, foi Ricardo Espírito Santo Salgado.” Acrescenta depois: “Foi intencional. Naquela semana em que estava em casa, à espera que chegasse o dia 1 de Abril, pensei muito sobre o que estava a acontecer no país. O dinheiro estava a escassear, e quando o dinheiro escasseia pensa-se no ministro das Finanças e nos homens que têm dinheiro para sustentar a economia. Pus-me ao telefone. Falei com a assessora de imprensa do ministro Teixeira dos Santos e depois com os homens do BCP, do BES, do Totta Santander e do BPI. E fiquei à espera das respostas.” E conclui: “As respostas surgiram logo no dia seguinte. Só mais tarde vim a perceber que aproveitaram o meu convite para acertar uma posição conjunta de forma a fazer um ultimato a José Sócrates. Acabei por, com aquelas entrevistas, fazer parte de uma narrativa que foi meticulosamente preparada pelos banqueiros.” E esta, hein?
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