quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

AINDA A QUESTÃO DA COMPETITIVIDADE



A Comissão Europeia iniciou recentemente (Fevereiro 2012), com a publicação dos primeiros materiais e relatórios, mais um processo de controlo (?) da evolução macroeconómica dos países. Chama-se “Mecanismo de Alerta” (dos desequilíbrios macroeconómicos) e tem a vantagem de sistematizar informação estatística relevante comparativa sobre os países da UE. O quadro de bordo estatístico reunido para esse efeito (Macroeconomic Imbalance Procedure (MIP) Scoreboard), passa a constituir um instrumento de trabalho que vale a pena seguir com regularidade.
Uma das vantagens do Scoreboard disponibilizado é permitir a consulta de diferentes indicadores sobre a competitividade dos países. Assim, para além dos já aqui referidos indicadores sobre a evolução do custo unitário de trabalho, é publicada informação sobre a evolução da quota mundial que cabe ao país nas exportações mundiais, que constitui um indicador de resultado dessa competitividade.
Rebecca Wilder no The Wilder Review refere-se a um indicador de construção simples que permite uma leitura sugestiva da competitividade como resultado. Para um conjunto de 12 países sob vigilância macroeconómica, compara-se a quota nas exportações mundiais do país avaliada em percentagem da quota das exportações mundiais do grupo dos 12 com a quota de população que o mesmo país representa no mesmo grupo dos 12. O país é considerado competitivo se esse indicador é superior a 1, refletindo que a quota de exportação supera a do peso demográfico. Simples e direto conforme convém neste tipo de informação.
O gráfico que abre este post revela a posição desfavorável de Portugal. No grupo dos 12, Portugal tem a companhia da Espanha, Itália, Grécia e, com alguma surpresa ou talvez não, a França. A Irlanda destaca-se pela positiva e evidencia que no conjunto dos países atingidos pela dívida soberana tem um potencial de exportação que não tem paralelo nos restantes. Apesar disso, a recuperação do crescimento económico irlandês está longe de corresponder a essa base de partida aparentemente mais favorável.
A situação portuguesa pode ser explicada pela sistemática perda de quota nas exportações mundiais que se tem verificado nos últimos anos. O gráfico abaixo descreve as taxas de variação (média de 5 anos) a quota das exportações portuguesas nas exportações mundiais e conforme é visível têm sido sistematicamente negativas. Como é compreensível, essas quedas foram mais fortes a partir do eclodir da crise mundial (2008). Mais uma evidência que existe de facto um problema de competitividade e que esse problema se agravou com a crise internacional.

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