Ulrich Beck é um sociólogo alemão, professor na Universidade de Munique e na LSE (“London School of Economics”), que tem vindo a problematizar a evolução das sociedades modernas. Conceitos como os de “sociedade do risco” ou de “cosmopolitismo” contam-se entre os seus contributos teóricos mais relevantes. A globalização, o desenvolvimento e a construção europeia situam-se na confluência das suas principais preocupações. Um autor a revisitar neste espaço, até pelo potencial de aplicabilidade de várias das suas hipóteses de trabalho à tentativa de se encontrarem respostas pertinentes a algumas das questões que aqui tenho procurado pôr em equação.
Hoje, limito-me a explorar algo mais prosaico, um curioso artigo recente (http://lemonde.fr/idees/article/2012/02/06/l-huitre-et-la-choucroute-ou-l-impossible-fusion_1639435_3232.html) em que Beck ilustra a defesa da sua “visão cosmopolita” por via da ideia “inconcebível” de uma “união entre França e Alemanha” que daria lugar a uma RFA (República Francesa da Alemanha). Não, não se trata de dar uma mão a esse “petit Nicolas” sempre aos saltinhos em volta de Angela ou, mais seriamente, a esse candidato presidencial subitamente rendido aos encantos do modelo germânico; trata-se precisamente do contrário, como passo resumidamente a explicar.
Sustentando que a visão nacional, ainda dominante no momento presente, se limita a avaliar ganhos e perdas, a perspetivar relações de dominação, a satisfazer-se com o nivelamento das diferenças –, Beck interroga: “como fazer da vontade de amar e viver as diferenças franco-alemãs o fundamento de uma comunidade cosmopolita das democracias? Seria possível que as soberanias conjuntas da França e da Alemanha multiplicassem ao mesmo tempo o poder e a democracia nesses países?”
O exercício que é proposto consiste em – não afastando a graça nem rejeitando a utopia, como decorre da imagem sugerida de uma impossível fusão entre as ostras e a “choucroute” – “brincar com a imaginação e a ironia políticas”, num vaivém que assume valorizar a exploração do potencial associado ao forjar de uma “nova realidade” (centrada em reforço mútuo e sucesso comum) contra o instalado “mito retrógrado”, alimentado pela “mentira nacional das elites”, de um “regresso ao idílio do Estado-nação”.
A tese central que subjaz é, assim, a seguinte: “no mundo atual, o nacionalismo tornou-se o inimigo das nações e dos seus interesses”. Ou seja, a de que “não há resposta nacional, separada, para as questões que (re)ocupam o nosso mundo: a crise financeira, a crise do euro, as mudanças climáticas, os movimentos migratórios, a miséria no mundo, a proteção social e a defesa dos direitos fundamentais nos outros Estados.” Toda uma desafiante agenda que ainda largamente aguarda pelo devido preenchimento…
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