Cerca de cinco minutos depois de colocar on line o meu
texto sobre “O Calvário Grego”, um texto de Wolfang Münchau no Financial Times de hoje, intitulado de “Porque é que a Grécia e Portugal deveriam declarar
insolvência” (no contexto da união monetária, acrescenta o autor) vai na linha do
meu pensamento sobre o cinismo do que se vai negociando em matéria de ajuda à
Grécia.
O arranque do artigo é devastador. Tendo em mente os políticos
europeus que acolheram a ideia da austeridade expansionista, Münchau ataca nos
seguintes termos:
“Pensaram que eram espertos
quando chegaram com a ideia de uma contração fiscal expansionista. E pensaram
que um envolvimento voluntário do setor privado poderia ajudar. Não tendo
aprendido com os erros dos outros, alguns estão a começar a aprender com os próprios
erros. Em algumas capitais europeias do Norte, os decisores começam a
compreender que o programa grego foi um falhanço total. Perderam a confiança na
política grega. Como estamos no quinto ano de uma depressão e é certo que o
produto interno grego descerá ainda mais sob a influência da austeridade, estão
à beira de desistir da Grécia.”
Quem escreve assim não é peco. Mas o que Münchau refere,
a meu ver, de mais grave é que perante a falta de capacidade de assumir riscos
do atual diretório europeu a peça vai continuar nos próximos episódios. Provavelmente,
o Parlamento grego hoje à noite fará também o seu papel e conseguirá no limite
dos limites o acordo pretendido. A Nova Democracia de Samaras começará a
colocar no prato da balança o custo-benefício político de aguentar os próximos
episódios da tragédia ou forçar uma alteração de texto, colocando-se num cenário
exterior ao euro. Mas mesmo nessa dúvida, não de casting mas de texto, é também
provável que o Eurogrupo liberte o programa de ajuda de 130 mil milhões de
euros. O rácio que se pretende atingir de 120% para o peso da dívida no PIB
grego continuará a ser visto por qualquer encenador informado um limiar
insustentável e, por isso, novas negociações se sucederão.
A tese de Münchau é que seria mais realista admitir a
insolvência (e aqui a novidade é a inclusão de Portugal no grupo) no interior
da União Monetária e reforçar substancialmente o Fundo de Resgate para ajudar
uma reconstrução coerente de ambos os países e, simultaneamente, suster o contágio.
Creio que é uma das primeiras posições públicas a admitir a insolvência simultânea
dos dois países sem implicar a saída da zona euro e a reclamar o reforço da
capacidade endógena da União Monetária para gerir a situação. Também por esta
via o tabu já não o é.
De qualquer modo, a posição de Münchau pode não ser a
dominante. Desistir da Grécia e incluir Portugal num grupo de bons e
disciplinados alunos pode ser uma outra tendência. Mas nesse caso resta saber
se a reação do mercado a acatará de bom grado. O folhetim vai continuar, mas a
sensação desagradável é que fazemos parte da peça e o enredo não nos é
indiferente.
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