domingo, 12 de fevereiro de 2012

O TABU QUE JÁ NÃO É



Cerca de cinco minutos depois de colocar on line o meu texto sobre “O Calvário Grego”, um texto de Wolfang Münchau no Financial Times de hoje, intitulado de “Porque é que a Grécia e Portugal deveriam declarar insolvência” (no contexto da união monetária, acrescenta o autor) vai na linha do meu pensamento sobre o cinismo do que se vai negociando em matéria de ajuda à Grécia.
O arranque do artigo é devastador. Tendo em mente os políticos europeus que acolheram a ideia da austeridade expansionista, Münchau ataca nos seguintes termos:
“Pensaram que eram espertos quando chegaram com a ideia de uma contração fiscal expansionista. E pensaram que um envolvimento voluntário do setor privado poderia ajudar. Não tendo aprendido com os erros dos outros, alguns estão a começar a aprender com os próprios erros. Em algumas capitais europeias do Norte, os decisores começam a compreender que o programa grego foi um falhanço total. Perderam a confiança na política grega. Como estamos no quinto ano de uma depressão e é certo que o produto interno grego descerá ainda mais sob a influência da austeridade, estão à beira de desistir da Grécia.”
Quem escreve assim não é peco. Mas o que Münchau refere, a meu ver, de mais grave é que perante a falta de capacidade de assumir riscos do atual diretório europeu a peça vai continuar nos próximos episódios. Provavelmente, o Parlamento grego hoje à noite fará também o seu papel e conseguirá no limite dos limites o acordo pretendido. A Nova Democracia de Samaras começará a colocar no prato da balança o custo-benefício político de aguentar os próximos episódios da tragédia ou forçar uma alteração de texto, colocando-se num cenário exterior ao euro. Mas mesmo nessa dúvida, não de casting mas de texto, é também provável que o Eurogrupo liberte o programa de ajuda de 130 mil milhões de euros. O rácio que se pretende atingir de 120% para o peso da dívida no PIB grego continuará a ser visto por qualquer encenador informado um limiar insustentável e, por isso, novas negociações se sucederão.
A tese de Münchau é que seria mais realista admitir a insolvência (e aqui a novidade é a inclusão de Portugal no grupo) no interior da União Monetária e reforçar substancialmente o Fundo de Resgate para ajudar uma reconstrução coerente de ambos os países e, simultaneamente, suster o contágio. Creio que é uma das primeiras posições públicas a admitir a insolvência simultânea dos dois países sem implicar a saída da zona euro e a reclamar o reforço da capacidade endógena da União Monetária para gerir a situação. Também por esta via o tabu já não o é.
De qualquer modo, a posição de Münchau pode não ser a dominante. Desistir da Grécia e incluir Portugal num grupo de bons e disciplinados alunos pode ser uma outra tendência. Mas nesse caso resta saber se a reação do mercado a acatará de bom grado. O folhetim vai continuar, mas a sensação desagradável é que fazemos parte da peça e o enredo não nos é indiferente.

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