Quando há dias invoquei aqui o discurso do
General George C. Marshall na Universidade de Harvard que é, em regra, indicado
como o momento de apresentação pública do chamado Plano Marshall, fi-lo apenas
para contrapor duas épocas e mostrar como então a preocupação americana tinha
que ver com a geopolítica da época. A ameaça que pairava então sobre a
depauperada Grécia de viragem total a leste contrasta efetivamente com o
empobrecimento generalizado a que a sociedade grega está hoje votada, estando
os Estados Unidos mais interessados em exigir à Europa que cumpra o seu papel
do que participar na solução.
Mas a ideia do Plano Marshall para a Grécia parece
renascer das cinzas da história, agora com os alemães a fazer o papel de organizadores
da ajuda. O assunto já tinha sido aflorado em algumas declarações da Senhora
Merkel, mas as últimas tomadas de posição sobre o assunto vêm não só do
Presidente da Federação das Indústrias Alemãs e do atual Presidente do Banco
Europeu de Investimentos (Werner Noyer). Embora este último tenha sublinhado que o programa seria necessariamente conduzido sob a responsabilidade das autoridades gregas, um programa desta natureza exige sempre um conjunto de
contrapartidas de organização e legislativas que podem constituir uma via
simultaneamente mais subtil e pragmática de assegurar as famigeradas reformas
estruturais tão proclamadas pela TROIKA. O relatório confidencial sobre a análise
de estabilidade da dívida grega assume explicitamente que o período de
implementação de tais reformas será muito mais longo do que o admitido pelas
sucessivas versões do programa de resgate financeiro. Um “Plano Marshall”
orientado para uma modernização infraestrutural da economia grega viria certamente
acompanhado de exigências sobre requisitos de acolhimento do capital alemão,
designadamente em termos de transparência de processos, o que não deixaria de
ser uma outra maneira de levar a água ao moinho das preocupações alemãs. Mas,
pelo menos, a concretizar-se representaria uma injeção de investimento na
economia grega, podendo contribuir para a minimização da trajetória recessiva
que a abordagem em curso tem determinado.
Mas o que me parece discutível é a sua
viabilidade atendendo à crispação, desconfiança e tensão acumulada que as peripécias
do resgate financeiro estão a gerar no relacionamento com o eventual fornecedor
da ajuda. E, sem recorrer a analogias fáceis, em tal contexto, a consolidação
do conjunto de exigências e requisitos que acompanha uma ajuda dessa natureza
(mesmo que não necessariamente idêntica à do verdadeiro Plano Marshall) pode não
ser coisa fácil. A probabilidade é essa eventual ajuda ser entendida como uma
via mais soft para impor à economia grega as tais “reformas estruturais” que a
terapia dos resgates financeiros não tem conseguido viabilizar.
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