"Tempestade de prejuízos varre banca portuguesa em 2011"
É discutível se a maioria dos portugueses
deu a devida atenção à publicação dos resultados de 2011 dos principais bancos
nacionais. Muito provavelmente para as famílias que não têm aí depositadas
poupanças e que estão antes a braços com a intensificação das condições de
empobrecimento os resultados negativos observados não terão impacto considerável.
Já para as famílias que têm condições para protagonizar a lenta subida da taxa
de poupança esses resultados não serão totalmente indiferentes, pois estão em
causa os climas de confiança na banca nacional como fonte de remuneração de
poupanças.
Os motivos anunciados, correção de
imparidades face à exposição da dívida pública grega e imparidades ditadas pela
transferência do fundo de pensões para a segurança social, eram conhecidos, mas
sobretudo o último carecia de uma explicação mais ampla. De facto, no momento
em que foi publicitado o acordo entre governo e banca nacional, posteriormente
validado, pelo menos não denunciado, pelos sindicatos do setor, não devidamente
explicado o impacto que a operação teria a curto prazo sobre os resultados da
banca. Num país, em que a literacia financeira é baixa e o Governador do Banco
de Portugal tem manifestado preocupação quanto a esta matéria, não pode
afirmar-se que na assinatura do acordo tudo estava bem, com vantagens para todas
as partes, para depois o cidadão financeiramente desinformado ser confrontado
com os ecos na imprensa de tão significativa quebra de resultados. Toda essa
desinformação gera insegurança e desconfiança quanto ao teor de decisões dessa
natureza. Na situação atual tudo o que minimize essas quebras de confiança constitui
matéria crucial. Não é que a banca e os banqueiros sejam personalidades propriamente
populares, mas resultados desta natureza acabam por impactar as expectativas,
penalizando os índices de confiança geral.
Mas o que é relevante sublinhar é que a
situação da banca portuguesa, embora menos exposta pela sua dimensão às
imparidades geradas pela crise das dívidas públicas soberanas do que a sua congénere
europeia, não deixa de alinhar pelos padrões que se observam ao nível do
sistema bancário da zona euro e da União Europeia em geral. Como referia no
post de ontem, existe uma armadilha do todo, isto é, a não resolução consistente
do problema da instabilidade da zona euro ditada pela crise das dívidas
soberanas penaliza e compromete soluções parcelares que estão a ser avançadas.
Como oportunamente referi neste espaço,
a desarticulação dos processos de decisão no interior da União Europeia ditou que
a injeção de liquidez operada pelo BCE nos finais de Dezembro de 2011 na banca
europeia (que será retomada em maior escala em Fevereiro de 2012) fosse
posterior às exigências de capitalização impostas pela Agência Bancária
Europeia. Por outras palavras, a dificuldade de financiamento da banca foi em
parte atenuada pela operação do BCE, mas pelo menos em parte esse financiamento
adicional foi utilizado pela banca para corrigir situações internas. Como
resultado, nem a operação foi totalmente reconvertida pela banca em novas
compras de dívida pública dos países mais carenciados (Itália, por exemplo),
como pretendia o Banco de França e Sarkozy, nem contribuiu para recuperar os níveis
de oferta de crédito à economia e sobretudo às PME. Ora, pelo menos esta última
componente tem um papel crucial em injetar fatores de dinamismo em economias
atingidas pela retração da procura associada aos resgates financeiros. Na
economia portuguesa, sabe-se que, mesmo sem resgate financeiro, o crédito
haveria de minguar nos setores não transacionáveis para libertar recursos a disponibilizar
ao setor exportador. Iria ser penalizador de qualquer maneira. Mas o problema
atual é que a situação da banca a impede de assumir esse papel mais seletivo na
atribuição de crédito. E sem esse papel a já retórica dinamização do
crescimento que o resgate financeiro veicula cai pela base.
É mais uma evidência de que a armadilha
do todo está a penalizar as soluções parcelares.
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