terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A BANCA E A ARMADILHA DO TODO

"Tempestade de prejuízos varre banca portuguesa em 2011"



É discutível se a maioria dos portugueses deu a devida atenção à publicação dos resultados de 2011 dos principais bancos nacionais. Muito provavelmente para as famílias que não têm aí depositadas poupanças e que estão antes a braços com a intensificação das condições de empobrecimento os resultados negativos observados não terão impacto considerável. Já para as famílias que têm condições para protagonizar a lenta subida da taxa de poupança esses resultados não serão totalmente indiferentes, pois estão em causa os climas de confiança na banca nacional como fonte de remuneração de poupanças.
Os motivos anunciados, correção de imparidades face à exposição da dívida pública grega e imparidades ditadas pela transferência do fundo de pensões para a segurança social, eram conhecidos, mas sobretudo o último carecia de uma explicação mais ampla. De facto, no momento em que foi publicitado o acordo entre governo e banca nacional, posteriormente validado, pelo menos não denunciado, pelos sindicatos do setor, não devidamente explicado o impacto que a operação teria a curto prazo sobre os resultados da banca. Num país, em que a literacia financeira é baixa e o Governador do Banco de Portugal tem manifestado preocupação quanto a esta matéria, não pode afirmar-se que na assinatura do acordo tudo estava bem, com vantagens para todas as partes, para depois o cidadão financeiramente desinformado ser confrontado com os ecos na imprensa de tão significativa quebra de resultados. Toda essa desinformação gera insegurança e desconfiança quanto ao teor de decisões dessa natureza. Na situação atual tudo o que minimize essas quebras de confiança constitui matéria crucial. Não é que a banca e os banqueiros sejam personalidades propriamente populares, mas resultados desta natureza acabam por impactar as expectativas, penalizando os índices de confiança geral.
Mas o que é relevante sublinhar é que a situação da banca portuguesa, embora menos exposta pela sua dimensão às imparidades geradas pela crise das dívidas públicas soberanas do que a sua congénere europeia, não deixa de alinhar pelos padrões que se observam ao nível do sistema bancário da zona euro e da União Europeia em geral. Como referia no post de ontem, existe uma armadilha do todo, isto é, a não resolução consistente do problema da instabilidade da zona euro ditada pela crise das dívidas soberanas penaliza e compromete soluções parcelares que estão a ser avançadas.
Como oportunamente referi neste espaço, a desarticulação dos processos de decisão no interior da União Europeia ditou que a injeção de liquidez operada pelo BCE nos finais de Dezembro de 2011 na banca europeia (que será retomada em maior escala em Fevereiro de 2012) fosse posterior às exigências de capitalização impostas pela Agência Bancária Europeia. Por outras palavras, a dificuldade de financiamento da banca foi em parte atenuada pela operação do BCE, mas pelo menos em parte esse financiamento adicional foi utilizado pela banca para corrigir situações internas. Como resultado, nem a operação foi totalmente reconvertida pela banca em novas compras de dívida pública dos países mais carenciados (Itália, por exemplo), como pretendia o Banco de França e Sarkozy, nem contribuiu para recuperar os níveis de oferta de crédito à economia e sobretudo às PME. Ora, pelo menos esta última componente tem um papel crucial em injetar fatores de dinamismo em economias atingidas pela retração da procura associada aos resgates financeiros. Na economia portuguesa, sabe-se que, mesmo sem resgate financeiro, o crédito haveria de minguar nos setores não transacionáveis para libertar recursos a disponibilizar ao setor exportador. Iria ser penalizador de qualquer maneira. Mas o problema atual é que a situação da banca a impede de assumir esse papel mais seletivo na atribuição de crédito. E sem esse papel a já retórica dinamização do crescimento que o resgate financeiro veicula cai pela base.
É mais uma evidência de que a armadilha do todo está a penalizar as soluções parcelares.

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