Já tinha encerrado por hoje as “hostilidades” e ouvia tranquilamente um programa que há muito ocupa regularmente a minha primeira hora dos domingos: “O Eixo do Mal” na SIC-Notícias. Um programa que vale pela síntese semanal, por alguns picos de imaginação, por uma dinâmica eficaz e pelo conteúdo de Clara Ferreira Alves.
Confesso que achava mais equilibrado o elenco anterior, isto é, que preferia a atitude nonchalant do jornalista José Miguel Júdice ao ar assumido de Pedro Marques Lopes (PML), que o substituiu em 2008 e foi então apresentado como “empresário, comentador, bloguista e 'conselheiro especial' de Pedro Passos Coelho”. Mas acontece, entretanto, que vinha detetando, de há algum tempo a esta parte, a existência de algum eco entre as intervenções de PML e as que, dois dias antes, José Pacheco Pereira (JPP) produzia no excelente debate de ideias que é a “Quadratura do Círculo” da mesma estação televisiva. Hoje, o meu “copo” transbordou ao ver PML a repetir despudoradamente e sem qualquer referência autoral, embora necessariamente em pior, o argumento essencial de JPP quanto ao já célebre “discurso de Odivelas” do primeiro-ministro. Com a agravante de tal coincidência ocorrer no dia em que JPP explorou em termos notáveis, na sua coluna do “Público”, o dito argumento de “uma nova forma de luta de classes: a que opõe ‘descomplexados competitivos’ a ‘preguiçosos autocentrados’.” Eu sei que é mera xico-espertice mas, ainda assim, é preciso ter lata! Miséria de sociedade!
Para auto-esclarecimento, fui procurar e ouvir o dito “discurso de Odivelas”. Deixo de seguida, para eventual registo de qualquer interessado, o extrato mais eloquente do que tanto indignou PML quando se exprimiu desta forma: “não é um discurso nem social-democrata, nem liberal, nem conservador, nem coisa nenhuma, é assim um discurso revolucionário que ninguém sabe de onde é que vem neste momento”; ou, ainda: “a dada altura parece que quer construir um mundo onde os fortes e os competitivos vencerão e os pobrezinhos e os desgraçados vão-se afundar na sua pieguice – isto é uma coisa muito assustadora”. Rezaram então assim as palavras de Passos: “Transformar velhas estruturas anacrónicas, velhos comportamentos muito preguiçosos – ou, às vezes muito autocentrados – por comportamentos mais descomplexados, mais abertos, mais competitivos depende de nós.” Elementar, não?
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