sábado, 25 de fevereiro de 2012

ATIVAÇÃO E EMPREGABILIDADE



O mote para este post é a afirmação proferida pelo recém-empossado Presidente do IEFP no Fórum TSF, posteriormente retomada pela imprensa diária, designadamente o Público de 24.02.2012:
“Neste momento o que oferecemos aos desempregados é pouco. Muitas das vezes é o controlar da apresentação quinzenal. É um desafio que possamos oferecer outro tipo de respostas às pessoas que temporariamente estão desempregadas”.
Mas disse mais, reportando a intervenção do IEFP relativamente às metas anunciadas pelo Ministério da Economia em matéria de relançamento do serviço público de emprego:
“Essas metas têm de ser avaliadas no contexto de várias situações. Quem cria empregos e quem gera ofertas de emprego é a economia e as empresas. Isso terá de estar em sintonia com o ambiente económico que o país possa viver”.
Parece estar na moda os responsáveis pelas políticas públicas questionarem o seu papel e demitirem-se de procurar resultados concretos com a sua intervenção. Afirmá-lo no mesmo dia em que o Governo anuncia com alguma pompa e circunstância o relançamento do serviço público de emprego é pura ironia, isto na interpretação mais benigna e bondosa desta coincidência. Mas não deixa de ser preocupante, dada a evolução da taxa de desemprego e sobretudo a magnitude e composição do desemprego de longa duração.
Como é óbvio, e sempre fui um defensor de assumir as implicações dessa evidência, o mercado de trabalho sempre revelou em Portugal uma forte dependência do ritmo de crescimento económico, fundamentalmente enquanto o desemprego revelou um comportamento contracíclico, ou seja, diminuir com a recuperação de atividade económica. Mas todos sabemos hoje que não basta encontrar um novo ritmo de crescimento. Para a mudança estrutural em que a economia portuguesa se encontra, com melhoria e transição para um novo padrão de qualificações, o próprio padrão do crescimento influenciará a recuperação do emprego e a seleção dos que encontrarão na recuperação uma oportunidade de retomar os seus laços com o mercado de trabalho.
Neste contexto, as políticas públicas têm um papel crucial a desempenhar como complemento necessário e não dispensável dos esforços de concretização de um novo padrão de crescimento para a economia portuguesa. Dizer que é a economia e as empresas que geram ofertas de emprego é reconhecer o óbvio, mas essa evidência não anula o papel da política pública e não a dispensa, antes pelo contrário.
Dois conceitos-chave exigem da política pública um correto entendimento e a dotação de meios ajustada para cumprir esse papel. Os conceitos em questão são “ativação” e “empregabilidade”.
A “ativação” corresponde praticamente, nos modernos serviços públicos de emprego, a um processo de “coaching” dos desempregados. Exige mais do que um entendimento competente, mas um envolvimento sério do técnico de emprego com a trajetória profissional e a história de vida do indivíduo-alvo. O contributo deste acompanhamento para uma cuidadosa seleção das oportunidades de formação e sobretudo a inserção destas oportunidades numa estratégia pessoal de procura de emprego é crucial. Que o Governo pretenda uma melhor articulação entre Centros de Emprego e Centros de Formação justifica-se e merece apoio generalizado. Que essa melhor articulação se consiga com a fusão destas entidades já é mais discutível e exigirá avaliação mais profunda. Mas o que sabemos é que “ativação” é muito, bastante mais do que o “controle da apresentação quinzenal”. Com taxas de desemprego como as que atingimos, com a dimensão estrutural desse desemprego à vista desarmada e com a magnitude e composição do desemprego de longa duração em muitos territórios, enfraquecer o serviço público de emprego poderá ser trágico e revela uma desconfiança fatal relativamente à política pública.
A “empregabilidade” é também um conceito com profundas implicações no posicionamento do serviço público de emprego e no sistema de educação/formação. Há uma tendência instalada de consagrar um entendimento da empregabilidade que alguns designam de “supply-side”, isto é, baseado na melhoria das competências do trabalhador suscetíveis de assegurar uma maior proatividade por parte deste na procura de emprego. Mas convém recordar que a empregabilidade também se joga no “matching” entre oferta e procura de qualificações. Este conceito mais amplo deve influenciar o posicionamento de Centros de Emprego e de Formação, designadamente na sua capacidade de relacionamento aberto com as empresas e com a perceção das suas efetivas necessidades.
Ambas as exigências são incompatíveis com a desvalorização e desqualificação do serviço público de emprego. Situar a criação de emprego apenas na conjuntura económica e, simultaneamente, enfraquecer o serviço público de emprego com o argumento da consolidação abrupta das contas públicas terá efeitos devastadores do ponto de vista da proteção dos desempregados.

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