(by Peter Pismestrovic)
Por mais paradoxal que possa parecer, mais relevante que
o acordo assinado para um segundo resgate financeiro à economia grega no
montante de 130 mil milhões de euros acaba por ser o relatório estritamente
confidencial preparado para a reunião dos Ministros das Finanças.
O Financial Times fala de um relatório de 10 páginas sobre a sustentabilidade da dívida grega, ao passo que a Reuters o refere como um relatório de 9 páginas. Ambos reivindicam o exclusivo de acesso ao mesmo, o
que não deixa de ser curioso. Ao contrário de outras tentativas no passado, uma
incursão aturada pelo Google não me presenteou com a versão do relatório, nem
sequer um site que por vezes opera milagres (www.scribd.com) o disponibilizou (afinal acabou por ser disponibilizado, ver http://pt.scribd.com/doc/82248091/Greek-Sustainability-Report).
Mas o que transparece do relatório, via comentários das
duas fontes que o citaram, FT e Reuters, é o reconhecimento da
incompatibilidade entre os objetivos de redução da dívida e de melhoria da
competitividade. Ou seja, preto no branco, os limites da chamada desvalorização
interna surgem desta vez explicitados. Citando a Reuters: “O resultado será uma
trajetória de dívida mais elevada, colocando-a em níveis perto dos 160% do PIB
em 2020. Considerando estes riscos, o programa Grego deve por isso permanecer
com o estatuto de “propenso a acidentes”, com questões de sustentabilidade a
pairar sobre o programa”.
O dito relatório cita ainda medidas adicionais para
viabilizar a precária meta dos 120% de dívida em relação ao PIB, através da
redução de 1,5 pontos percentuais nas taxas de juro de empréstimos bilaterais no
seio da zona euro e de 3,5 pontos percentuais através de uma complexa
engenharia financeira de reestruturação de títulos da dívida pública grega
possuídos pelos bancos centrais. Lateralmente, estas reduções provocam
necessidades adicionais de recapitalização da banca para contrariar as
imparidades daí resultantes. Soma-se a estas reduções a posição do BCE em abdicar
das mais valias dos títulos gregos que possui, que reduzirá a dívida em 5,5
pontos percentuais adicionais.
No uso que fez do relatório, o FT fala de novo reforço da
ajuda financeira à Grécia (apoio financeiro prolongado no tempo), apesar da
relutância conhecida dos países AAA, Alemanha, Holanda e Finlândia.
Como processo de estabilização de expectativas nada de
mais brilhante poderia estar a ser concretizado. Ou seja, qualquer uma das
maratonas negociais que têm sido conseguidas abre um vasto caminho de incerteza
para um horizonte de médio prazo. Resta saber se haverá consequências do reconhecimento
preto no branco de que redução da dívida e melhoria da competitividade são
incompatíveis, logo o reconhecimento de que a abordagem em curso à redução da dívida
é “self-defeating”.
Entretanto, Münchau não é peco e escreve que se a Grécia
quiser restaurar a democracia tem de assumir o incumprimento.
Mais a ocidente e perdida na blogosfera (no POLITICS.ie)
uma afirmação sobre a Irlanda: “Ireland is facing 10 years of austerity. Leaving Ireland is the best thing you can do at the moment if you are
responsible for a young family.” (A Irlanda enfrenta 10 anos de austeridade. Deixar
a Irlanda é a melhor coisa que pode fazer se é responsável por uma família
jovem), Richard Tol Former ESRI Supremo.
Para os defensores da bizarra (tema de próximo post) tese
de que Portugal está a meio caminho entre a Grécia e a Irlanda esta afirmação
dará para pensar duas vezes, pelo menos. Será aqui talvez que algumas vozes
internas que têm apresentado a emigração como solução (incluindo responsáveis
por políticas públicas que não o deveriam admitir) foram buscar a inspiração.
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