terça-feira, 4 de março de 2014

A CRENDICE DOS POBREZINHOS


Retomo a entrevista do inefável ministro Machete ao “Público” de domingo. E procuro alguma boa razão para que um Estado de direito democrático deva confiar num regime ditatorial e sangrento e assim apoiar a entrada da Guiné Equatorial na CPLP.

O país é pequeno (28 mil quilómetros quadrados) e pouco populoso (800 mil habitantes). O português apenas foi declarado língua oficial, a terceira depois da espanhola e francesa, em julho de 2010 e por decreto. O presidente, Teodoro Obiang, foi considerado pela “Forbes” o oitavo governante mais rico do mundo e o seu filho Teodorin, também vice-presidente, é acusado pela justiça francesa de branqueamento de capitais e desvio de fundos públicos. Apesar de dispor de petróleo desde 1996, a um ponto de dependência que chega a 90% das receitas públicas mas que o tornou a economia de maior rendimento per capita da África subsariana, o país não está em condições de cumprir nenhum dos 8 “Objetivos do Milénio”.

É em face deste cenário que Machete nos vem explicar que “a CPLP tem de ser pensada como uma realidade dinâmica que ganha importância não só na expansão da cultura e da língua portuguesa como na capacidade de reunir esforços de países do ponto de vista económico”. Aqui está, portanto, bem esparramado o nosso verdadeiro racional: sempre de mão bem estendida, o Governo português tem esperança na concretização do previsto num memorando de entendimento assinado entre o BANIF e a República da Guiné Equatorial – e, aliás, redigido em espanhol – no sentido de um veículo desta vir a injetar 133,5 milhões de euros naquele e assim contribuir com capital privado (avaliado em torno dos 11%) para o difícil fecho da segunda parte do seu plano de recapitalização (com o Estado português, que já “ajudou” com uns muito contestáveis 1,1 mil milhões de euros, a reduzir a sua posição para menos de 60% dos direitos de voto), tudo na expectativa de uma ulterior validação pelas autoridades europeias.

Desconhece-se até ao momento qual o eventual papel que possa ter desempenhado em todo este transparente processo o atual presidente do Conselho de Administração do BANIF (desde a abertura do seu “novo ciclo” e correspondentes mudanças, em 2012) e ex-ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros (2006/11), ex-ministro da Defesa Nacional (2005/06) e ex-secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação dos XIII e XIV Governos Constitucionais…


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