O PSD dos últimos dias fervilha, depois do ego
ter sido massajado com um congresso que superou as expectativas dos mais
pessimistas, incluindo a presença algo rocambolesca do Professor Marcelo.
E no meio de tanto fervilhar quero destacar dois
factos, acontecimentos autênticos, bem característicos dos artistas portugueses
que por ali se passeiam.
O primeiro diz respeito ao regresso de Miguel
Relvas, que deu para tudo, até para citar provérbio chinês e máxima de Groucho
Marx. O homem confessa-se um incompreendido pelos comentadores que hierarquizou
em algumas categorias (seria bom saber como encaixa Relvas os seus inimigos de
estimação nessa taxonomia) e declara-se um servidor do partido e de Portugal. De
Groucho apanhou o passar do nada à miséria e do provérbio chinês a ideia de que
perante ventos não se esconde e constrói moinhos. Já tinha ouvido muitas
expressões para designar o estatuto de facilitador e de desenrascador (nunca
esqueci a forma simpática como António Costa sempre se referiu ao poder do
telefone de Relvas), mas construtor de moinhos nunca. É de facto impressionante
a autoestima que esta gente manifesta, atribuindo valor social útil à promoção
dos interesses privados em sede de causa pública. Convém, por isso, monitorizar
a intervenção futura das empresas que o nosso Grouxo constituiu com o seu
rebento feminino.
O segundo acontecimento é a forma cândida como
Fernando Ruas (que designo “carinhosamente” de restaurador Olex) encara as
mudanças do seu lugar na lista para o Parlamento Europeu. Segundo os jornais,
Ruas encarou obstinadamente a sua presença elegível na lista para o PE. Isto de
ser Presidente de Câmara Municipal durante muitos anos, exercitar bondosamente
os seus poderzinhos num território que lhe foi sempre fiel e usar a visibilidade
do sindicato municipal em que a Associação Nacional de Municípios se
transformou produz habituações e andrenalina que a reforma não acalma. E para a
constituição de um bom pé-de-meia suplementar uma legislatura no PE sempre dá
jeito e afinal o homem pensa que gerir Fundos Estruturais e escrutinar diligentemente
os sucessivos períodos de programação sempre deu para dominar essas questões da
Europa. Por isso, não se percebeu qualquer incómodo da criatura pela
possibilidade de Alberto João ter ocupado o lugar imediatamente superior na
lista. Alberto João sabe-a toda e percebeu que lhe estavam a proporcionar uma
gaiola dourada e recusou. Mas a determinação de Ruas não tinha que ver com a posição,
mas com a elegibilidade. Vamos também monitorizar o rasto da passagem de Ruas
pelos hemiciclos de Bruxelas e Estrasburgo. É verdade que o clima de Bruxelas não
ajuda, os restauradores pregam-nos por vezes partidas mas não é problema que um
bom chapéu não resolva.
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