segunda-feira, 3 de março de 2014

O CONSTRUTOR DE MOINHOS E O RESTAURADOR OLEX



O PSD dos últimos dias fervilha, depois do ego ter sido massajado com um congresso que superou as expectativas dos mais pessimistas, incluindo a presença algo rocambolesca do Professor Marcelo.
E no meio de tanto fervilhar quero destacar dois factos, acontecimentos autênticos, bem característicos dos artistas portugueses que por ali se passeiam.
O primeiro diz respeito ao regresso de Miguel Relvas, que deu para tudo, até para citar provérbio chinês e máxima de Groucho Marx. O homem confessa-se um incompreendido pelos comentadores que hierarquizou em algumas categorias (seria bom saber como encaixa Relvas os seus inimigos de estimação nessa taxonomia) e declara-se um servidor do partido e de Portugal. De Groucho apanhou o passar do nada à miséria e do provérbio chinês a ideia de que perante ventos não se esconde e constrói moinhos. Já tinha ouvido muitas expressões para designar o estatuto de facilitador e de desenrascador (nunca esqueci a forma simpática como António Costa sempre se referiu ao poder do telefone de Relvas), mas construtor de moinhos nunca. É de facto impressionante a autoestima que esta gente manifesta, atribuindo valor social útil à promoção dos interesses privados em sede de causa pública. Convém, por isso, monitorizar a intervenção futura das empresas que o nosso Grouxo constituiu com o seu rebento feminino.
O segundo acontecimento é a forma cândida como Fernando Ruas (que designo “carinhosamente” de restaurador Olex) encara as mudanças do seu lugar na lista para o Parlamento Europeu. Segundo os jornais, Ruas encarou obstinadamente a sua presença elegível na lista para o PE. Isto de ser Presidente de Câmara Municipal durante muitos anos, exercitar bondosamente os seus poderzinhos num território que lhe foi sempre fiel e usar a visibilidade do sindicato municipal em que a Associação Nacional de Municípios se transformou produz habituações e andrenalina que a reforma não acalma. E para a constituição de um bom pé-de-meia suplementar uma legislatura no PE sempre dá jeito e afinal o homem pensa que gerir Fundos Estruturais e escrutinar diligentemente os sucessivos períodos de programação sempre deu para dominar essas questões da Europa. Por isso, não se percebeu qualquer incómodo da criatura pela possibilidade de Alberto João ter ocupado o lugar imediatamente superior na lista. Alberto João sabe-a toda e percebeu que lhe estavam a proporcionar uma gaiola dourada e recusou. Mas a determinação de Ruas não tinha que ver com a posição, mas com a elegibilidade. Vamos também monitorizar o rasto da passagem de Ruas pelos hemiciclos de Bruxelas e Estrasburgo. É verdade que o clima de Bruxelas não ajuda, os restauradores pregam-nos por vezes partidas mas não é problema que um bom chapéu não resolva.

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