sábado, 22 de março de 2014

POLÍTICA DA MISÉRIA E MISÉRIA DA POLÍTICA

(E. Benoy, http://www.tanea.gr)

Ao ler há dias nas notícias que, após seis meses de difíceis negociações, o governo grego chegou finalmente a acordo com a sua Troika, que assim vai finalmente autorizar o desbloqueamento de mais uma tranche (10 mil milhões de euros) do empréstimo oficial que concedeu (240 mil milhões desde 2010), lembrei-me de uma interessante mas arrepiante conversa que recentemente tivera em Bruxelas com Anni Podimata, eurodeputada do PASOK, sobre a situação que se vive naquelas suas nativas paragens: um caos económico e social com alguns requintes de malvadez, uma crescente parte dos cidadãos entre o mais completo desespero e a mais absoluta desesperança, os bancos em situação crítica e a precisarem de recapitalização como de pão para a boca, a situação política bloqueada e significativamente encalhada.

Ao que consta, e pela primeira vez após vários anos de draconiana austeridade, o governo vai ter agora duas florzinhas para pôr na lapela: após a obtenção de um saldo orçamental primário de 1,5 mil milhões de euros em 2013, foi-lhe permitido proceder à distribuição de um terço dessa verba aos cidadãos em situação de vulnerabilidade mais aguda (incluindo uma autorização imediata de 20 milhões para ajuda urgente a alguns “sem abrigo”) e proceder a uma diminuição dos encargos sociais em 3,9 pontos percentuais. Parece também que os credores magnanimamente adiaram por seis meses a exigência de uma simplificação dos processos de licenciamento coletivo e renunciaram à exigência de novos despedimentos de funcionários públicos em 2015 (sendo, contudo, superior a 15 mil o número dos abrangidos ao longo de 2014). Sendo que outras concessões, designadamente alguma renegociação da dívida ou algum plano intercalar de financiamento, poderá estar na calha para o pós-eleições europeias.

Do lado socialista é a uma debandada e quase desagregação que se assiste, com as sondagens a concederem-lhes entre 4 e 7% das intenções de voto. Visto de fora e à distância, o quadro não parece nada edificante: enquanto o anterior líder e primeiro-ministro Papandreou vai procurando desaparecer de cena ou se vai apresentando entre o insuportavelmente acossado e o compreensivelmente deprimido, o seu correlegionário e ex-rival Evangelos Venizélos passeia alegremente a sua condição de vice-primeiro-ministro e homem de confiança de Samarás...

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