domingo, 23 de março de 2014

O MELHOR DO FIM-DE-SEMANA



Sábado, entrevista de Pedro Magalhães ao Expresso:
“ (…) Pergunta: O inquérito evidencia que os portugueses são um povo descontente com a democracia?
Resposta: Já sabíamos que Portugal vive neste momento histórico o ponto mais baixo de satisfação com o funcionamento da democracia. Estes novos dados ajudam a perceber de que é feita essa insatisfação, e indiciam que há um défice democrático muito acentuado na avaliação que é feita à capacidade do regime para assegurar o combate à pobreza, a igualdade do ponto de vista económico, e perante a lei. (…)”
O Inquérito Social Europeu constitui um instrumento de avaliação do pulsar das sociedades europeias a que as políticas públicas, europeias e nacionais, deveriam conceder mais atenção e interesse. As tendências larvares de insatisfação estão lá e a entrevista de Pedro Magalhães tem a relevância que a sua opinião merece. Não digam depois que não foram avisados.
Miguel Sousa Tavares, sábado, jornal Expresso, “Nação e Estado”
“Há muitas coisas que me deprimem neste país que é o meu. A irresponsabilidade da justiça, incapaz de assumir quaisquer culpas próprias ou propor melhorias no funcionamento de um sistema desacreditado aos olhos de todos, menos dos seus agentes. A arrogância impune dos traficantes de influências profissionais, no seu triângulo estratégico Portugal – Brasil-Angola, As medusas falantes que saíram das juventudes partidárias para a chefia dos partidos, sem qualquer outra competência conhecida. O sindicalismo ao serviço de agendas político-partidárias, sem pudor nem honra própria. Os empresários que pagam salários de miséria e sediam os lucros em off-shores. A falta de vergonha pública e social dos que todos sabemos serem bandidos e se pavoneiam como cavalheiros. E, sim, o povo que todas as manhãs desfila e destila ódio e inveja nos fóruns radiofónicos da Antena-1 e da TSF. Dizem nas sondagens que são muito patrióticos : veneram Fátima e a bandeira. Confundem o Governo com o Estado e o Estado com a nação. Confundem a liberdade com o bem-estar e trocariam sem um gemido a democracia arruinada por uma próspera ditadura que os aconchegasse. Somos nós: não há como fingir que não somos assim, porque somos. (…)
A representação que os portugueses fazem de si próprios é fértil em caracterizações deste tipo, abstratas, desinseridas dos grupos sociais, assentes em sobresimplificações e até Unamuno nos considerava uns invertebrados. Miguel Sousa Tavares percorre a história portuguesa para encontrar no tempo razões para que os portugueses tivessem começado a depender doentiamente do Estado. E vai até ao tempo de Colombo financiado por empresários andaluzes em confronto com a decisão de D. Manuel I de reservar para o monopólio da coroa a empreitada das Descobertas. Estas representações são perigosas porque dão razão aos entrepreneurs-entertainers de Relvas e ao discurso da maioria que é necessário extirpar a Estado-dependência fazendo desaparecer a droga aditiva da presença do Estado. E depois o povo não pode ser todo exportado. Por isso me arrepio com estas categorizações abstratas dos portugueses, até porque seria capaz de apresentar exemplos do seu contrário.
Fernando Madrinha, sábado, jornal Expresso, “Faz de conta”
“ (…) Tal como Seguro faz de conta que diverge e Passos faz de conta que dialoga, enquanto os seus próximos fustigam o parceiro para o forçar a um acordo, Merkel faz de conta que o ajustamento português é um sucesso. Afinal, também tem eleições europeias pela frente e seria difícil, ainda que o quisesse, vender aos eleitores um programa cautelar para Portugal voltar aos mercados com segurança. (…)”
Não sou um leitor regular de Fernando Madrinha e regra geral desisto às primeiras linhas. Mas esta crónica aponta para uma linha de argumentação que tem sido bastante utilizada neste blogue que poderia designar-se como a grande dissimulação. E atribuo-lhe uma relevância extrema, pois é a possibilidade de contrariar esse registo que António José Seguro joga a sua alternativa. Nos próximos tempos será fundamental que AJS demonstre e se comprometa com soluções que inequivocamente mostrem aos portugueses que não está a fazer de conta. Como, por exemplo, este fim-de-semana apontou o dedo à cumplicidade público-privado que existe em alguns cargos de chefia no SNS, comprometendo-se com a separação das águas. Será dessa maneira que o conseguirá. Não com grandes elaborações decorrentes das propostas do Novo Rumo. Mas com ideias simples de que fará diferente e encontrará os recursos para financiar tais escolhas.
A interrogação cósmica ou algumas reflexões pessoais sobre uma descoberta científica – a propósito de uma notícia do Expresso
Em registo muito pessoal, confesso que me sinto muito limitado por não saber música e tocar piano e por não ter a formação no universo da física que gostaria de ter. Neste último caso, é com grande deleite e interrogação que me confronto com os resultados de uma recente descoberta na Universidade de Stanford, que prova a existência da chamada inflação cósmica, ou seja evidências de que o universo terá tido uma expansão muito rápida nas primeiras frações de segundo da sua existência, na qual terão sido geradas as flutuações iniciais que deram, por sua vez, origem a estruturas como as galáxias hoje observadas no cosmos. Inflação cósmica, mas que tema!

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