(Imagem de Renato Cruz Santos para o Público do jovem Fábio Fernandes e do seu professor de música)
Duas notícias, quase ao acaso dos dias que
correm, uma proveniente de uma reportagem do Público, outra da TSF, sinais dos
tempos, de um país, bloqueado na mobilidade social ascendente.
A primeira tem o rasto do desemprego e do que ele
significa de privação, não apenas dos próprios, dos atingidos pelo fenómeno,
sobretudo na sua vertente de longa duração, mas também o cenário dos estaleiros
de Viana do Castelo. Fábio é um jovem de vocação ímpar para a guitarra clássica,
mais um produto de escolas de música locais que têm revolucionado a cultura
musical em Portugal. Admitido numa das mais exigentes e reputadas escolas de música
londrinas, Fábio encontra pela frente o muro indireto do desemprego do seu pai,
funcionários dos Estaleiros de Viana do Castelo no desemprego e muito provavelmente,
se não emergir um mecenas qualquer (será a Martifer esse mecenas?), de não
prosseguir a sua vocação na escola de referência que o seu professor lhe
indicou. As propinas não estão ao alcance ao alcance de um desempregado e as
bolsas (sem ligação direta com a produtividade) andam pelas ruas da amargura. Um
exemplo de mobilidade social ascendente coarctada.
A segunda prende-se com mulheres algarvias que
fizeram rastreio público de cancro de mama e que teriam de aprofundar diagnósticos
no Porto na Liga Portuguesa contra o Cancro (porquê no Porto? Não entendi bem!)
para cuja viagem não teriam condições económicas familiares. A Câmara de Faro
(uma câmara dirigida pelo PSD, esclareça-se) assume os custos das deslocações e
proporciona autocarro e apoio a essas mulheres para que não vejam a sua situação
clínica agravada ou tornada irreversível. Um simples exemplo da ponta de um
iceberg gigantesco, que na Grécia começou já a ser perscrutado, e que diz
respeito à degradação das condições de acesso à saúde determinada pelo
empobrecimento.
Para completar, vejam uma excelente reportagem do New York Times sobre uma evidência
que nos deveria acompanhar permanentemente e que radica na segura manifestação
de que é mais fácil entrar na pobreza do que sair dela.
Factos, simples factos, que deveremos considerar
evidências do outro lado do empobrecimento, visto e sentido pelos não
almofadados.
Martifer mecenas?
ResponderEliminarSegundo a notícia, oferecerá 7.000 euros para o miúdo se desenrascar no início. Paga muito pouco para ter publicidade de "humanista"!!! Sobre contratar o pai de miúdo, nada.
Eu estaria disposta a participar numa subscrição para arranjar aqueles 7000 euros e mandar o patrão da Martifer dar uma curva, em vez de se publicitar...