(António Jorge Gonçalves, Toon, http://inimigo.publico.pt)
Ainda umas considerações laterais sobre Gaspar revelado pelo livro de Avillez. Desta vez para sublinhar um aspeto que me causou alguma estupefação e não me deixa muito descansado quanto ao risco que corremos de um seu eventual pedido para connosco vir colaborar neste blogue. Então não é que o nosso ex-ministro das Finanças recorreu precisamente aos nossos dois “patronos” para se definir em relação à sua atitude em relação à política? Assim: “Quanto a ser um optimista em política, deixe-me dizer-lhe que gosto da expressão que Fernando Henrique Cardoso utilizou para caracterizar Albert Hirschman: optimista céptico.” – notável!
Mas não contente com esta revelação, logo lhe acrescenta uma outra: “Sim, [Albert Hirschman] foi um dos mais originais pensadores sociais e ensaístas do século XX. Nasceu em Berlim, em 1915. Resistiu ao totalitarismo nazi nos anos 30, abandonou Berlim vindo a ajudar muitos intelectuais e artistas a fugir de França, como Hannah Arendt, por exemplo. Trabalhou em áreas de fronteira entre a Economia, a Ciência Política e a Sociologia e a maior parte dos seus contributos centra-se em questões limitadas e bem definidas. Quando estudo problemas de Economia Política procuro – modestamente – associar-me a esta tradição.”
Algumas páginas mais à frente, Gaspar volta à carga: “Estou neste momento a ler alguns ensaios, livros e uma biografia de Albert Hirschman de quem falámos há pouco, mas vou citá-lo de novo porque vem a propósito. Quando morreu, em 2012, Fernando Henrique Cardoso, que se contava entre os seus amigos, escreveu um pequeno artigo em que identificava um traço de ‘optimismo céptico’ na vida e obra deste autor. Julgo que Hirschman terá sido influenciado pelo optimismo céptico de Montaigne. Mas penso que esta expressão – ‘optimismo céptico’ – caracteriza bem a minha atitude em relação à Europa.”
Fica bem a Gaspar dar alguns sinais de abertura, multidisciplinaridade e erudição em matéria de Ciências Sociais. Mas não é por isso que o rei deixa de ir nu, já que é patente quanto o homem – conhecendo e parecendo até gostar – não vai longe enquanto praticante. Não estou mesmo certo de que o dito tenha lido os escritos a que alude com a merecida atenção, antes tendo preferencialmente a admitir que as suas referências decorrem de uma colagem com cuspe de elementos desgarrados (embora bem sonantes). Termino na expectativa de que, dada a autoridade do António Figueiredo na matéria, dele possam aqui surgir próximas considerações mais aprofundadas e certamente úteis – à sua atenção, pois...
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