sexta-feira, 28 de março de 2014

DA AJUDA SANGUINÁRIA AO QUE FAZER


Um pouco mais de Félix, para nos ajudar a organizar o raciocínio sobre o que há de vir. De novo com recurso à eloquência de apropriadas citações, no cabalístico número de sete.

Citação nº 1, a propósito da dívida excessiva: “Nós desempenhamos, durante um ano e meio, um papel imprescindível à salvação do Euro, que foi aguentar o choque dos mercados sem proteção nenhuma. (...) É importante ter a noção de que nós desempenhamos um papel-chave na sobrevivência do Euro e que a contrapartida disso é a dívida que nós hoje temos, que é o dobro da dívida pública que tínhamos no início da crise. (...) Nós temos que convencer a Europa a mutualizar (...) a dívida detida por bancos portugueses contraída depois de 2009 – porque reestruturariam a dívida em que os bancos portugueses na prática foram sucessivamente os tomadores dessa dívida para aliviar, entre outras coisas, as dificuldades do Banco Central Europeu em intervir – (...),transformando-a em dívida europeia de alta qualidade e de remuneração eventualmente mais baixa.”

Citação nº 2, acerca da hipótese de uma reestruturação da dívida: “Em nenhum caso uma dívida em que os credores são privados tem que ser tocada. Porque os credores não têm culpa nenhuma nem dos erros de conceção do Euro nem do modo como ele foi gerido e confiaram numa entidade – que era a Europa – para ter oferecido uma moeda internacional de qualidade. Portanto, nós nunca podemos reestruturar nenhuma dívida detida por privados, na minha opinião.”

Citação nº 3, relativa ao nosso tão badalado sucesso exportador: “Desde 2003, estamos a viver o que nós chamamos em Economia um super-ciclo das matérias-primas, isto é, um período longo de preços muito elevados do conjunto das matérias-primas, desde a agricultura à energia e aos minérios. Todos os países da bacia do Atlântico Sul, na América Latina e na África, são produtores de matérias-primas; a maior parte deles não têm indústria ou têm uma indústria muito pequena. O que é que nós andamos a fazer durante os dez anos do super-ciclo das matérias-primas agora mais recentemente? Andamos a vender a quem tinha dinheiro e a quem não tinha indústria e, portanto, foi um sucesso. (...) [Só que] o critério para determinar se eu tenho uma vaga exportadora é o investimento no sector exportador, não é o aumento das exportações – eu não tenho muito investimento; o que eu tenho foi em parte pegar numa capacidade produtiva que estava mais orientada para o mercado interno e redirecioná-la para os países das matérias-primas.”

Citação nº 4, sobre a nossa necessidade de investimento estrangeiro, antes – “A Alemanha foi o país a quem Portugal mais deve no que respeita aos vinte anos de integração europeia pós-1986. Foi a Alemanha que veio investir em Portugal, foi a Alemanha que na prática transformou a nossa oferta exportadora numa oferta muito mais modernizada, com automóveis, com electrónica, com material elétrico, com serviços, com muita coisa.” – e agora: “O grande problema para Portugal é que nós, endogenamente, não temos atores empresariais capazes de abrir avenidas novas para a exportação portuguesa. Nós temos pessoas extraordinárias em tudo o que fazemos, mas nós precisamos de fazer coisas diferentes, de crescer mais no mundo, no mercado internacional. E isso em grande parte nós não temos atores e, por isso, temos que os chamar, temos que chamar estrangeiros para vir para cá. Agora, os estrangeiros para vir para cá não querem que nós sejamos propriamente pessoas famintas, que comem uma refeição por dia ou que não têm férias.”

Citação nº 5, quanto a opções geoestratégicas: “O que distingue Portugal na Europa, em termos do seu relacionamento histórico, é a Ásia. (...) Quando a Ásia está a emergir, e vai emergir em tensão interna entre estes atores todos, a política que me parece mais adaptada a um país como Portugal é ter excelentes relações com as três potências asiáticas, com o Japão, com a Índia e com a China. (...) Por isso é que eu digo que a elite portuguesa escusava de querer transformar Portugal numa feitoria chinesa.” (...) “E isso devia complementar a nossa perspetiva atlântica e essa perspetiva atlântica hoje tem maior possibilidade de se concretizar porque o presidente Obama propôs à Europa uma ideia (...) que era uma parceria transatlântica do comércio e do investimento. Não há nada melhor para um país arquipelágico – porque nós somos um arquipélago – do que uma parceria transatlântica, porque estamos no meio dessa parceria. Essa parceria, até, se tivesse uma sede institucional, devia ser em Lisboa.”

Citação nº 6, atinente a caminhos: “A questão não é sair do Euro, é reposicionarmo-nos face à União Europeia e, nesse contexto, discutir com a União Europeia como é que nós vamos viver com o Euro a seguir. (...) O que eu estou a dizer é o seguinte: nós temos que estar na União Europeia e temos que negociar os termos da nossa presença (...) Nós não podemos chegar, no nosso estado atual, à União Europeia para negociar nada se nós não arrumarmos primeiro a nossa casa. E a nossa casa arruma-se num princípio muito simples que é assim: não podemos ter um sistema social da dimensão que temos se não crescermos.”

Citação nº 7, ainda atinente a caminhos: “Um país europeu não compete pela mão-de-obra, compete pelo capital humano. (...) Na Europa, um país que quer ter um mínimo de dignidade tem que acumular capital humano. (...) Nós, portugueses, temos que nos entender em torno do futuro e em torno do que é moderno.”

1 comentário:

  1. A Economia de Uma Nação Rebelde - passa pelo nome de ENDOECONOMIA - Este projeto revolucionário e pioneiro foi tema de uma reunião que tive, pessoalmente, com o Primeiro ministro de Portugal, no âmbito deste lançar o repto para que os portugueses apresentassem propostas concretas para a economia de Portugal . Pois bem, apresentei e não obtive resposta. - Já agora, apresentei também ao Félix Ribeiro, pessoalmente e por e-mail. - Quem sabe poderemos unir esforços neste âmbito, vamos aguardar contacto do colega Félix. - Mais detalhes em - https://www.academia.edu/4259082/ENDOECONOMIA_-_um_novo_conceito_

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